BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) se reúne na noite desta quarta-feira (10) com o ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e o escolhido para sucedê-lo na pasta, o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski. Segundo aliados, o objetivo foi definir os detalhes finais da transição na Esplanada.
De acordo com esses aliados, entre os temas abordados estavam a montagem da equipe e os temas de relevância no ministério. A reunião também teve o objetivo de distensionar o ambiente, uma vez que Dino defendeu para o seu lugar, ao longo das últimas semanas, o nome do seu secretário-executivo, Ricardo Cappelli.
Apesar da preferência de Dino, Lula optou por um nome de sua confiança e com formação na área jurídica. Braço direito de Dino, Cappelli é jornalista.
Segundo pessoas próximas, Dino ainda defende que Cappelli seja mantido ao menos na secretaria-executiva, sob o argumento de que ele desempenhou papel importante na resposta aos ataques do 8 de janeiro e tem conhecimento do funcionamento interno do ministério.
O encontro começou antes das 19h no Palácio da Alvorada e não havia terminado até a publicação da reportagem. É a segunda reunião de Lula com Lewandowski nesta semana. Os três terão um novo encontro nesta quinta-feira (11), às 11h, segundo agenda oficial do presidente.
Como a Folha mostrou, apesar de ainda não ter sido oficializado, a indicação do ministro do Supremo para comandar a Justiça é dada como certa e já desencadeou uma discussão sobre a partilha do segundo escalão do ministério.
A demora na oficialização ocorreu porque Lewandowski busca definir nomes da sua equipe e, principalmente, organizar seu escritório de advocacia. Por isso, integrantes do governo avaliam que ele pode até mesmo ser anunciado, mas sem nomeação imediata no Diário Oficial da União.
Segundo aliados de Lewandowski, é certo que ele fará questão de montar sua própria equipe e indicar postos-chave do ministério, como a secretaria-executiva e a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública).
A expectativa do Planalto é a de que a transição ocorra da forma mais tranquila o possível, preferencialmente com a participação de Cappelli.
O número dois de Dino, no entanto, disse a interlocutores que não tem interesse em ficar numa função desidratada -seu nome chegou a ser cogitado para a Senasp.
Ele ainda avisou a aliados que não deve aceitar um convite que represente um rebaixamento hierárquico.
Cappelli também disse a pessoas próximas que só permaneceria na pasta caso se mantivesse na secretaria-executiva ou fosse promovido a ministro.
O nome de Cappelli passou a circular até mesmo para algum cargo no Ministério da Defesa ou em outros postos da administração pública federal, mas rapidamente as opções foram descartadas.
Nesse quadro, o cenário mais provável atualmente é que Cappelli deixe o governo caso não seja preservado ou reacomodado em algum cargo de relevância na Esplanada.
Homem da confiança de Dino, ele ganhou notoriedade no início do governo por ter sido interventor na segurança do Distrito Federal após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Também assumiu interinamente o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no lugar do ex-ministro general Gonçalves Dias, demitido por Lula em abril passado.
De acordo com pessoas próximas, Cappelli tem pretensões eleitorais e julga importante desempenhar um papel que o mantenha em evidência até 2026.
Pessoas próximas a Lewandowski, por sua vez, dizem que ele não deve mexer em muitos cargos, mas optará por secretários com experiência nas respectivas áreas e perfis mais discretos
Um nome forte para a secretaria-executiva de Lewandowski é o do advogado baiano Manoel Carlos de Almeida Neto. Ele já foi assessor de Lewandowski, de quem é próximo há mais de duas décadas, e teve por ele o nome defendido para a penúltima vaga aberta no STF.
Para a Senasp, segundo interlocutores de Lewandowski, a possibilidade é de que o comando vá para alguém com histórico de atuação na área, como um nome da academia. Aliados do ministro aposentado do Supremo veem Benedito Mariano, fundador do PT e ex-ouvidor das polícias do estado de São Paulo, como um bom nome.
Ainda que a questão partidária não seja o parâmetro para a montagem da equipe, o fato é que o PT deve permanecer em cargos e o PSB perder espaço em um futuro ministério Lewandowski,
Hoje auxiliares de Lula que participam das conversas dão como certeza a permanência de dois nomes, como compromisso firmado pelo próprio presidente: o petista Wadih Damous na Secretaria do Consumidor e Andrei Rodrigues como diretor-geral da PF (Polícia Federal).
Andrei atuou na segurança do petista ainda durante a campanha e ampliou sua confiança junto ao mandatário. Damous, por sua vez, é amigo de Lula e trabalhou na sua defesa em casos da Lava Jato.
A expectativa é a de que também sejam mantidas Tamires Sampaio e Sheila de Carvalho na assessoria especial do ministério. As duas são ligadas ao PT, sendo que Carvalho também é presidente do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados).
Por outro lado, nomes próximos a Dino que ocupavam outros cargos de destaque e são filiados ao PSB devem deixar a pasta.