SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a inflação vindo abaixo do esperado em maio, analistas passaram a considerar um corte na Selic (taxa básica de juros) antes mesmo de setembro, mês que é visto pelo mercado como o mais provável para o início do processo de redução.
Dos 13 bancos de investimento e casas de análise consultados pela Folha, 11 apostam no início do ciclo de queda de juros entre agosto e setembro deste ano. Entre eles, oito enxergam uma possibilidade de começo do alívio monetário no país já em agosto, com alguns calibrando suas expectativas após a divulgação da inflação oficial do Brasil nesta quarta (7).
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou em maio, a 0,23%, após avançar 0,61% em abril. O dado ficou abaixo da mediana das expectativas do mercado levantadas pela Bloomberg, de 0,33%.
Analistas também chamam a atenção para o recuo de todas as medidas dos núcleos da inflação. Os núcleos captam melhor a tendência para os preços do país ao desconsiderar distúrbios resultantes de choques temporários, excluindo da conta itens mais voláteis, como energia e alimentos.
Entre os que revisaram suas projeções logo após a divulgação do IPCA estão a Nova Futura Investimentos e a Mirae Asset, que alteraram as estimativas de corte da Selic de setembro para agosto. A Mirae ainda mudou o patamar a que a taxa básica de juros deve chegar ao fim do ano, passando de 12,75% para 12,25%.
Além da inflação, o economista Julio Hegedus Netto, da Mirae, diz que a melhora na relação entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central também justifica a mudança na aposta.
A Genial Investimentos, que antes projetava juros a 13,75% até o fim de 2023, agora enxerga espaço para corte da Selic neste ano, vendo o melhor momento para isso a partir de setembro. “A experiência passada desaconselha fortemente cortes precoces da taxa de juros quando o processo de desinflação ainda não estiver sedimentado”, destaca a casa de análise.
A Warren Investimentos não mudou sua estimativa de início do ciclo de alívio monetário, que é setembro de 2023, mas informou que “subiu muito a probabilidade” de corte em agosto. “O fator decisivo é a definição da meta de inflação pelo CMN [Conselho Monetário Nacional] em 29 de junho”, informou a Warren por meio de sua assessoria de imprensa.
O Bradesco, que também trabalha com o cenário de início de queda de juros em setembro, reconheceu nesta quarta “que a data de início de cortes pode ser antecipada”, segundo relatório do banco.
A XP e o Inter reforçaram suas expectativas de corte de juros para agosto após a divulgação do IPCA nesta quarta. Para o Inter, haveria espaço para redução da Selic já na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deste mês de junho, mas considerando a comunicação mais rígida na reunião anterior do comitê, manteve a aposta para agosto.
Entre os bancos estrangeiros, o Goldman Sachs não cravou uma data, vendo probabilidade de afrouxamento da política monetária dentro de dois a três meses, ou seja, nas reuniões do Copom de agosto ou setembro. Já o Bank of America reafirmou sua aposta de corte em agosto, enquanto o UBS tem como cenário base o mês de setembro.
VISÕES DIVERGENTES
Dentro do levantamento feito pela Folha de S.Paulo, apenas três bancos destoam das análises sobre o início do corte de juros.
O Itaú BBA manteve sua estimativa de redução da Selic na reunião do Copom que acontecerá entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro. A assessoria informou, contudo, que nos próximos dias o banco deve ter novidades em suas projeções.
O Santander Brasil também reforçou, por enquanto, sua expectativa de redução dos juros apenas a partir de novembro.
A Ativa Investimentos é a que tem a aposta mais discrepante do restante dos analistas, projetando corte da Selic no segundo trimestre de 2024. O economista-chefe da casa, Étore Sanchez, diz, contudo, que a Ativa está em processo de revisão de seus modelos.
“Por enquanto, temos dois principais entraves para alteração do cenário da Selic: a desancoragem das expectativas para 2026 em diante e a trajetória ascendente do juro neutro da economia”, argumenta.