Um juiz é acusado formalmente pelo Ministério Público de corrupção. A denúncia chega ao Judiciário em 2015, portanto, há 9 anos, e permanece quase anônima, hibernando na geladeira pelo “segredo de justiça”, que na verdade serviu mais ao espírito de corpo dos magistrados do que mesmo para “manter o sigilo de investigações” que corroborariam a denúncia. O juiz, Jânio Takeda, sequer foi advertido e continuou na comarca de Carauari, segundo o delegado Cornellius Celeghini Silveira, “aprontando”.
O juiz, como qualquer cidadão, tem direito a ampla defesa e provar, se for o caso, que era ou é vítima de uma ”conspiração” do poder político local. Mas a blindagem recebida deu margem a suspeita de que havia um submundo e que o magistrado transitava nele com desenvoltura, o que lhe rendeu o título de “Coronel”, “Xandão do Mato” e “Xogum”. As denúncias se avolumaram.
Em 2015 Takeda foi acusado pelo então sub-procurador geral do Ministério Público, Pedro Bezerra Filho, “de comandar uma organização criminosa ligada ao narcotráfico” e de receber dinheiro para saltar traficantes. Na época, um escândalo, logo abafado.
Agora, o juiz, durante uma inspeção na delegacia do município, foi confrontado pelo delegado Cornellius, que o acusou de corrupção e de usar presos para fazer serviços em sua casa. Takeda deu ordem de prisão ao delegado, mas a polícia era o delegado…
A cena foi cômica. Cornellius continua em liberdade, comandando a delegacia.
Se o juiz falhou no cumprimento do dever constitucional de exercer a magistratura com isenção, imparcialidade e espírito público, o delegado errou ao confrontá-lo publicamente, como se não houvesse outra forma de pedir uma investigação para além do âmbito do tribunal de Justiça do Amazonas, já que a denúncia do então subprocurador Pedro Bezerra foi Ignorada. O delegado precisa explicar também a situação precária das celas, o ambiente insalubre no qual vivem os presos sem julgamento, a situação de escárnio e abandono, num flagrante desrespeito a direitos garantidos pela Constituição.
Juiz é acusado de receber propina em troca da liberdade de traficantes
Juiz dá voz de prisão a delegado de Carauari durante inspeção em delegacia