SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Senhores clientes, a volta do McFish foi um sucesso e, por isso, alguns restaurantes não têm mais o produto. Caso tenha comprado na pré-venda, sugerimos que retire o seu produto no restaurante que comprou. Caso tenha dificuldade em resgatar o seu voucher, permaneça no atendimento, e vamos ajudá-lo.”
É o que diz a gravação do SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão) do McDonald’s, imediatamente após a ligação ser efetuada. A ação promocional acaba neste domingo (18), e mesmo quem comprou o McFish na pré-venda enfrenta dificuldades para colocar as mãos no sanduíche.
Nos últimos dias, o McDonald’s tem dado aos clientes duas opções: ir à unidade mais próxima com o sanduíche ainda em estoque, indicada pelo SAC, ou receber o estorno da compra em até 30 dias. Quem optar pela retirada do McFish deve, até domingo, marcar horário no restaurante indicado e procurar o gerente da loja, no balcão.
Descobrir qual unidade ainda poderá atender aos pedidos também não tem sido fácil. A reportagem da Folha permaneceu por 46 minutos em uma ligação com o SAC, mas a chamada caiu antes do atendimento ser prestado.
A rede de fast-food tem enfrentado uma maré de críticas de clientes que tentaram comprar o sanduíche de peixe empanado, relançado por tempo limitado no dia 6 de fevereiro, e não conseguiram.
“Era meu lanche preferido do McDonald’s até ele parar de ser vendido. Só comia ele. Quando veio a notícia de que ia voltar, eu alucinei e pensei que ia matar a saudade”, disse a designer gráfica Chrisley Peres, 43, que ainda não conseguiu comer o sanduíche comprado na pré-venda.
“Meus amigos até riram da minha cara por eu ter comprado na pré-venda, mas eu gostava muito e quis garantir para não perder. E perdi mesmo assim.”
O marido de Peres tentou pegar o sanduíche na última sexta-feira (16), ainda dentro do prazo da campanha. Ao chegar na loja escolhida para retirada, na Praça Panamericana, zona oeste de São Paulo, os atendentes indicaram a unidade Jaguaré, que teria o produto.
Como era mais longe do que o previsto, ele preferiu trocar o sanduíche por um McChicken, usando o mesmo voucher comprado pela esposa.
A troca, segundo a assessoria de imprensa da rede de fast-food, não é o procedimento padrão, embora chovam reclamações nas redes sociais de quem comprou o McFish e recebeu outro lanche no lugar.
Chrisley afirma ter se sentido lesada pela substituição. “Fiz a compra na pré-venda, acreditando que o McDonald’s teria contado essa quantidade de sanduíches na pré-venda para garantir o lanche de quem já pagou”, afirmou.
Ela recorreu às redes sociais. Um representante da rede entrou em contato com ela e propôs que ela fosse ao shopping Villa Lobos, também na zona oeste, para retirar o sanduíche com hora marcada.
“O atendimento, em geral, foi bem atencioso, até [pela reclamação] ter sido colocada em uma rede social, e isso dá uma queimada [na imagem do McDonald’s]. Eles garantiram meu lanche, pelo menos, e sem custos adicionais, já que o voucher já foi usado. Vamos ver amanhã. Não quero jantar McDonald’s dois dias seguidos.”
Procurado, o McDonald’s manteve o mesmo posicionamento enviado à Folha na terça-feira, e afirmou que a demora no atendimento do SAC à reportagem foi “pontual” e “só ocorreu neste sábado”.
De acordo com a nota, a venda geral foi maior do que a antecipada, “o que resultou no esgotamento de estoques em restaurantes em todo o país, principalmente em São Paulo”.
A empresa diz que vai honrar as vendas feitas. “Para isso, o time está atuando para auxiliar os consumidores via SAC (telefone e email) ou redes sociais, direcionando os consumidores sobre onde encontrar o produto que deve ser retirado até o dia 18/02 nos restaurantes em que foram reservados.”
Foi afetado pelo ‘sumiço’ do McFish? Conheça seus direitos
A falta do produto ofertado fere o Código de Defesa do Consumidor, dizem advogados.
Maria Inês Dolci, especialista em direito do consumidor e colunista da Folha, afirma que a empresa não pode anunciar um produto como disponível e não tê-lo em estoque, o que fere o artigo 35 do código, e pode trazer consequências jurídicas.
O advogado Gabriel de Britto Silva, diretor jurídico do Ibraci (Instituto Brasileiro de Cidadania), diz que a situação pode ser enquadrada como publicidade enganosa, prática considerada abusiva.
“Está claro o descumprimento da oferta. Quando há oferta e não há o cumprimento, há a possibilidade de o consumidor que se sentir lesado fazer com que o fornecedor a cumpra, até mesmo judicialmente.”
O McFish saiu do cardápio em 2019, após uma análise do portfólio da rede no Brasil indicar que o esforço para mantê-lo era maior do que a procura pelo sanduíche. À época, o Big Mac, carro-chefe do McDonald’s, vendia mais de 400 unidades por dia, em um único restaurante, e o McFish, quatro.
A preparação do sanduíche era mais complexa que a de outros. O peixe usado no preparo vinha de navio do Alasca, e cada hambúrguer era frito na hora. Além disso, na receita original, ainda se usava apenas meia fatia de queijo, o que podia gerar desperdício em dias de movimento fraco.
Mas, assim que saiu de linha, o McFish entrou para a lista de hambúrgueres da rede que não ficaram famosos só pelo sabor, mas pelo saudosismo. Foi até criada uma página no Instagram, a @voltamcfish, para pedir o retorno do sanduíche.
A campanha de retorno começou em outubro de 2023, quando perfis oficiais do McDonald’s passaram a interagir com publicações que pediam a volta do sanduíche. Depois, houve inserção no trailer do filme Aquaman 2 e, em janeiro deste ano, começou a pré-venda, além de propaganda em TV aberta.