Lula não vai se desculpar, e resposta a Israel será diplomática

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A reação de Israel à fala de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que comparou a ofensiva militar de Israel em Gaza ao Holocausto repercutiu mal entre auxiliares palacianos e diplomatas. A avaliação é de que Tel Aviv quer aumentar a dimensão da crise, e o petista não vai se desculpar.

O episódio foi tema de discussão em reunião no Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira (19) com os ministros Paulo Pimenta (Secom), Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.

A definição de Lula é que a resposta deve ser diplomática. O chanceler Mauro Vieira convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine para encontrá-lo ainda nesta segunda na sede do Itamaraty no Rio de Janeiro, onde o ministro está para a reunião de chanceleres do G20 na próxima quarta (21).

Como antecipou a coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, Vieira também chamou de volta o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, para consultas. Segundo a pasta, o diplomata embarca para o Brasil na terça-feira. Trata-se de um ato diplomático que demonstra insatisfação do governo.

“A meu ver, não há de que se desculpar. O que está ocorrendo é uma barbaridade”, disse Amorim à reportagem. “O chanceler [Mauro Vieira] anunciará as providências que decidir tomar. (…) Sempre tivemos grande estima pelo povo judeu, que nos deu Einstein, Freud e tantos outros, além de extraordinária contribuição à cultura brasileira”, completou, reforçando o que a primeira-dama, Janja, disse mais cedo, que Lula se referia ao “governo genocida” ao fazer suas críticas, não ao povo judeu.

A tensão diplomática começou no domingo (18), quando Lula fez a declaração em uma entrevista coletiva na Etiópia. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores do governo de Binyamin Netanyahu declarou o líder brasileiro “persona non grata”.

Além disso, o chanceler israelense, Israel Katz, fez uma reprimenda ao embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, no Memorial do Holocausto (Yad Vashem). O gesto foi descrito por um diplomata como um “show” —isso porque, normalmente, advertências a embaixadores são feitas nas sedes das chancelarias.

Interlocutores observam ainda que, desde o início da guerra, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, foi chamado três vezes pelo governo brasileiro, sem alarde.

A avaliação é que foi uma tentativa de escalar a crise, como forma de reação às críticas não só do governo brasileiro, mas da comunidade internacional à ofensiva contra palestinos. Também há a percepção de que Israel busca com isso tirar a credibilidade internacional do Brasil, considerando que Lula vem sendo um personagem verbalmente crítico às ações israelenses.

O Congresso Judaico Latino-Americano, entidade que representa as comunidades judaicas da região ante governos e órgãos políticos, emitiu comunicado em que lamenta as declarações do brasileiro. “Estou decepcionado com Lula ao comparar a situação em Gaza ao Holocausto. Essa analogia é produto do desconhecimento promove o antissemitismo e ‘acaba’ com a memória as vítimas do Holocausto”, diz o documento, assinado pelo presidente da entidade, Jack Terpins.

A posição do governo petista é a de evitar um aprofundamento na tragédia na região. Também em entrevista coletiva na Etiópia, Lula se referiu à guerra em curso como “chacina de Gaza”.

As críticas e a comparação com o Holocausto que desencadearam a crise aconteceram após o presidente ser questionado sobre o anúncio de doação para a agência da ONU voltada a refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).

A entidade está sob investigação após acusação de Israel de que alguns de seus integrantes supostamente teriam vínculos com o Hamas e participaram dos ataques do 7 de Outubro. Por isso, mais de dez nações, a maior parte europeias, cortaram o financiamento.

Lula também reafirmou críticas aos países ricos, em particular aos europeus, que cortaram o financiamento da organização, quando foram apontadas suspeitas de envolvimento de agentes com o grupo terrorista Hamas.

“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”, afirmou o presidente.

“[Não está vendo] que não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para o povo que está lá”, declarou no domingo (18).



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