A investigação contra a corrupção mais célebre da história brasileira completa 10 anos neste domingo (17/3). A Operação Lava Jato, que virou filme, série de TV e estampou incontáveis manchetes na imprensa, revelou esquemas bilionários de propina em empresas como a Petrobras, levou para a cadeia alguns dos maiores empresários do país, além de políticos, incluindo um ex-presidente da República.
Após anos de crédito positivo com a maior parte da sociedade, porém, a Lava Jato começou a ser questionada e criticada por seus métodos, o que levou seus ícones para a política numa tentativa de defendê-la. O desmantelamento da operação foi tão intenso que ajudou a reconstruir a carreira política de seu maior alvo, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, reconduzido pela maioria dos eleitores, em 2022, a um inédito terceiro mandato na presidência do Brasil.
Nesses últimos 10 anos, a Lava Jato moldou a história da política brasileira, inspirando mudanças profundas na legislação, inflando e destruindo carreiras jurídicas e políticas, influenciando no segundo impeachment da história brasileira, o de Dilma Rousseff (PT) em 2016, e deixando um país dividido entre saudosos e críticos de tudo o que aconteceu.
Confira a história da Operação Lava Jato:
O legado da Lava Jato
Em entrevista ao Metrópoles (confira a íntegra abaixo), um dos principais personagens dessa história, o ex-procurador da República e ex-deputado federal Deltan Dallagnol (hoje no Partido Novo), avalia que o que restou da Lava Jato foi um “legado de resistência contra a impunidade e um chamado à ação para toda a sociedade” que “acordou a nossa população para o quão roubados nós somos”.
Dallagnol, que com a perda de força da operação no campo jurídico acabou tentando carreira política, afirma que ter como alvo políticos e empresários poderosos foi um “avanço sem precedentes na nossa luta contra a corrupção”. “A Lava Jato é um testamento para o Brasil e para o mundo, evidenciando que é possível enfrentar a corrupção independentemente do poder dos envolvidos”, avalia.
Ao ser questionado sobre possíveis erros durante o processo investigatório, o ex-deputado admite que a Lava Jato teve “revezes” nos últimos anos, porém não cita diretamente quais são. Vale pontuar que a operação sofre até hoje com as revelações da chamada “Vaza Jato”, expostas pelo site The Intercept Brasil e por outros veículos de imprensa a partir de junho de 2019.
À época, o Intercept revelou uma série de conversas entre o então juiz Sergio Moro, Dallagnol e outros integrantes da força-tarefa da Operação no Telegram que indicaram a parcialidade de Moro ao julgar o caso – depois julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) atendendo a pedido da defesa de Lula.
Esse vazamento ajudou a criar o clima para a anulação das decisões tomadas durante a Lava Jato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), bem como na revogação da prisão de Lula.
Apesar das acusações e anulações, Dallagnol diz que, ao “olhar para trás”, tem “convicção” de que a equipe “agiu com o mais alto grau de profissionalismo e dedicação à causa da Justiça”. “A essência da nossa missão, que era trazer a luz e punir os crimes de corrupção, antes impensáveis, nunca foi abalada”, defende.
Confira a entrevista exclusiva com Deltan Dallagnol na íntegra:
A Lava Jato hoje
Após uma série de decisões do STF que anularam condenações de Lula e de outros políticos e empresários, a Lava Jato segue sofrendo derrotas na Corte Suprema neste aniversário de 10 anos. Neste início de 2024, o ministro Dias Toffoli, acolheu pedido da Novonor S.A (novo nome da Odebrecht) e suspendeu o pagamento de multas de R$ 8,5 bilhões impostas à empresa.
Outras companhias que fecharam acordos de leniência e confessaram crimes também têm se beneficiado das anulações motivadas por questionamentos sobre a conduta de Dallagnol e do ex-juiz Sergio Moro, hoje senador pelo Paraná.
Apesar disso, a operação conseguiu, ao longo dos anos, reparar parte dos danos aos cofres públicos.
Relatório do gabinete do ministro Edson Fachin, que foi relator da Lava Jato na Corte, revela que os acordos de colaboração premiada garantiram mais de R$ 2 bilhões recuperados por meio de pagamento de multas ou restituição de bens.
No total, foram homologados 120 acordos de colaboração, 22 pelo ministro Fachin, 21 pelo ministro Teori Zavaschi, falecido em 2017, e 77 pela ministra Cármen Lúcia, que era presidente do STF no período em que a relatoria de Fachin ainda não havia sido designada.