SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bairros do centro São Paulo ficaram sem fornecimento de energia elétrica durante quase todo o dia desta segunda-feira (18). Segundo a concessionária Enel, uma ocorrência na rede subterrânea que atende a região de Higienópolis provocou interrupção por volta das 10h30. Por volta das 20h30, ainda havia ruas escuras e relatos de falta de luz.
O apagão afetou parte dos bairros de Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque. A Santa Casa teve de remarcar procedimentos e exames. O hospital era sendo alimentado por geradores nas áreas de internação e emergências.
Além de residências e comércios, o trânsito também foi prejudicado com a falta de semáforos. No início da noite, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que controla o trânsito na cidade, não saiba informar quantos equipamentos estavam apagados, por causa da falta de energia na própria Central de Operações da empresa, na rua Bela Cintra, região da Bela Vista.
A última informação disponível às 19h20 era das 14h, quando dez semáforos estavam sem funcionar no município, sendo que cinco desses por falta de energia elétrica. A companhia, inclusive, não conseguiu divulgar o índice de lentidão no trânsito a partir das 12h19 desta segunda-feira.
No início da noite, um semáforo quebrado na rua da Consolação travava o trânsito em uma das principais vias do centro. Agentes da CET tiveram que intervir para tentar amenizar o congestionamento.
Sem internet para trabalhar ou estudar ou sem ter onde carregar equipamentos eletrônicos, muitos procuraram shoppings. Nos corredores do Frei Caneca, por exemplo, a cena se repetia: pessoas aflitas procurando de andar em andar uma tomada livre, encostadas nas paredes ou usando computadores sentadas no chão.
Uma delas era o produtor Fabio Henrique Pratezi, 26. Ele mora na mesma rua do shopping. “Eu fui andando até achar uma tomada livre no segundo andar. Fiquei uns 40 minutos carregando o celular”, disse.
Ele afirma que a falta de energia afeta todas as atividades. “Pedi comida e tive de descer oito andares e depois subir os oito andares. Trabalho em casa, sem energia não tem ventilador, não tem ar-condicionado, elevador, air fryer, nada”, contou.
O produtor disse que o shopping estava mais cheio que o normal. “Tinha muita gente lá. Tem uma área para carregar o celular, sou frequentador do shopping e nunca tem gente lá, mas hoje tinha fila. O shopping tem várias tomadas em todos os andares e isso facilitou”, complementou.
A professora universitária e pesquisadora Denise Paiero trabalha em casa às segundas-feiras, quando concentra pesquisa e correções de trabalho, e foi pega de surpresa pela falta de eletricidade.
“Acordei cedo, comecei a trabalhar, não carreguei os equipamentos, mas perto de 10h a energia acabou e vi que estava quase sem bateria em tudo”, disse.
De acordo com ela, a Enel deu prazo de solução até as 14h, depois as 16h, mas como não resolvia, ela teve de ir ao shopping carregar o celular.
“Ficar sem energia é péssimo. Não ter previsão correta de retorno piora muito a situação. Meu pai está doente, em tratamento e não dá para eu ficar incomunicável”, afirmou.
Questionada, a Enel não respondeu quantos clientes foram afetados pela falha nem deu previsão para solução do problema. Moradores ouvidos pela reportagem dizem ter recebido da empresa a informação de que a normalização do serviço está prevista para as 22h.
Segundo a concessionária, a interrupção da energia foi causada por uma escavação realizada pela Sabesp na região central de São Paulo, que atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora.
Porém, a Sabesp, empresa de saneamento do estado, afirma que ainda investiga a situação. “Avaliação preliminar constatou que as obras de manutenção e ligação nos ramais de esgoto não danificaram a rede elétrica subterrânea. A escavação foi feita manualmente, a partir das 11h, sem deslocamento da fiação”, disse a estatal.
A Enel acrescenta que deslocou equipes de técnicos e eletricistas ao local da obra para identificar a causa e realizar o reparo da rede. Confirmou ainda ter disponibilizado geradores para atender um hospital e outros clientes prioritários.
O apagão ocorre em meio a ondas de calor, com temperaturas acima de 34°C, o que deixa a população ainda mais irritada pela impossibilidade de se refrescar ou mesmo de trabalhar de casa.
A arquiteta e estudante Anna Luisa Costa mora na rua Martim Francisco, na Vila Buarque, e conta que a energia caiu por volta das 10h30. “Não teve barulho nem nada, só caiu e pronto”, diz.
“Trabalho de casa quatro vezes por semana e hoje meu computador já descarregou. Fiquei apenas com o celular, que não dá conta de atender o que eu preciso fazer. É perder a manhã inteira de trabalho que eu tinha planejado”, reclama.
Ela conta que procurou amigos que moram perto para tentar trabalhar, mas todos estão sem energia e, em consequência, sem internet.
“Também vêm as preocupações com geladeira. Se demorar muito vão estragar as coisas. Também preocupa como ficaram os eletrodomésticos que estavam ligados na tomada”, afirma.
Segundo transtorno mais recorrente na percepção dos moradores de São Paulo, as quedas de energia têm como principal culpada a distribuidora de energia Enel, segundo 62% das pessoas ouvidas na pesquisa Datafolha sobre problemas e prioridades da cidade, conforme publicado pela Folha de S.Paulo no domingo (17).
A cidade de São Paulo enfrenta uma série de apagões desde o final do ano passado, sendo o mais grave registrado no início de novembro. Alguns bairros ficaram mais de 110 horas sem abastecimento após uma tempestade com ventos acima de 100 km/h ter derrubado dezenas de árvores sobre cabos de energia.
A empresa, em nota, diz também que tem trabalhado em melhorias. “Muitas iniciativas já estão em curso, como a modernização da estrutura da rede, a digitalização do sistema, o aperfeiçoamento e a diversificação dos canais de comunicação com os clientes, além da elevação dos graus de criticidade no planos de contingência e a mobilização de mais equipes em campo.”
Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz que “questiona a qualidade dos serviços prestados pela concessionária responsável desde que as quedas de energia se tornaram comuns na cidade”.
“Além de abrir negociações diretamente com a empresa e solicitar uma manifestação a respeito dos seguidos transtornos e prejuízos causados aos paulistanos, em janeiro deste ano a gestão abriu uma ação no Tribunal de Contas da União solicitando mais rigor na fiscalização federal sobre a concessionária e imediata rescisão contratual da cidade de São Paulo com a Enel, em função das sucessivas e graves falhas registradas”, lembra a gestão Nunes.