Todos nós vivemos nossas guerras. E durante nossas vidas ganhamos e perdemos muitas batalhas. Mas são lutas sem morte e sem sangue. Lutas que ferem, como quando perdemos o primeiro amor. Lembro que aos 15 anos disputei com um concorrente pequeno, magrela e feio, o amor de uma garota. Perdi no tapa. Achei que, sendo um pouco maior, o venceria. Mas ele era rápido. Deu-me um “telefone”, com as mãos abertas atingiu fortemente os meus ouvidos. Cai humilhado, zonzo, confuso, perdido. Levantei e corri. Nunca mais vi a garota…Guardo desse tempo uma leve deficiência de audição.
Não parei de brigar porque a vida impõe desafios. Cai e levantei muitas vezes, ri e chorei. Tive a sorte de ter amigos verdadeiros, que têm mudado de opinião em relação a temas com os quais concordávamos. Mas me respeitam e eu os respeito. A luta ideológica que divide o país não entra em nossas casas quando estamos juntos porque temos o cuidado de não discutir política.Temos uma ideia comum: eles não gostam de Bolsonaro nem de Lula, mas são equivocadamente rotulados de bolsonaristas.
Temos em comum ainda a ideia de que não há uma guerra em Gaza. Há uma invasão de um país estrangeiro que mata sem trégua e que precisa ser contido. Comungamos da opinião de que o Hamas é terrorista, mas não são terroristas os homens que Israel está matando porque se armaram para defender suas famílias. Faríamos o mesmo em nossas casas, se nossa mãe, nossas filhas e filhos, nossas mulheres estivessem sob ameaça.
Não é possível que a imprensa mundial entre na conversa fiada de Israel de que entrou em Gaza e matou mais 50 terroristas. Ou se esperava que nenhum homem, nem uma mulher ou criança, vítimas dessa violência, confinados numa pequena faixa de terra, ameaçados de extinção, não reagissem com balas e pedras contra soldados de Israel? Que essa gente não odiasse os EUA pelo apoio, pelas armas e pelo morticínio que patrocina na Faixa de Gaza?
Penso que não está longe o dia em que a guerra de alguma forma chegará aqui. E teremos que pegar em armas para defender a família, o estado, o País. O mundo mudou tão de repente que nossas batalhas deixaram de ser pessoais para ser coletivas.
Como as pessoas não conversam mais e em razão disso não se entendem, a possibilidade de uma guerra é real…