São Paulo — A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) recuou do plano de ter uma atuação mais presente no Porto de Santos, no litoral paulista, após uma missão feita no local mapear a atuação de facções criminosas. O órgão decidiu manter seus agentes fora de operações no local, considerado o principal escoadouro de drogas usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para enviar cocaína à Europa, apesar da relevância do porto para a soberania do país.
Fontes de órgãos de investigação que compartilham informações com agentes da Abin no dia-a-dia relatam ao Metrópoles que a presença da inteligência no Porto de Santos foi reduzida desde o ano passado. Agentes da Abin usualmente mantém contato com órgãos como a Polícia Civil, a Policía Federal e a Receita Federal.
O Metrópoles apurou que no dia a dia do Porto, chegam inclusive relatos de crimes, como os de facções e o tráfico de drogas aos agentes da Abin, que não podem investigá-los, mas podem compartilhá-los com a PF e a Receita. Relatórios também têm tratado ao longo dos anos sobre a presença de facções no Porto.
No último ano, internamente, a Abin chegou a debater a presença maior do efetivo na região, inclusive o aumento das missões presenciais. No entanto, o governo encerrou as tratativas e agentes passaram a ser desmobilizados das ações de inteligência presenciais. O movimento foi notado, inclusive, por integrantes de outros órgãos de investigação.
Procurada, a Abin afirmou que “a Superintendência Estadual São Paulo é a unidade da Abin responsável pela assessoria de Inteligência no âmbito estadual, inclusive quanto ao Porto de Santos, que continua sendo escopo de atuação”.
Maior porto da América Latina, Santos é considerado uma das mais estratégicas áreas para a presença de agentes de inteligência em razão dos altos índices de criminalidade organizada e do impacto socioeconômico de eventuais mudanças do Porto para o país, como grandes concessões e até mesmo a privatização.
No ano passado, a PF incinerou 2,4 toneladas de drogas em Santos – a maior parte da carga foi apreendida no porto. Como mostrou o Metrópoles, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) estima que o faturamento do PCC e seus parceiros na região foi de R$ 10 bilhões.
Também foi recheado de casos de corrupção. Em um passado recente, operações da PF resultaram no indiciamento de políticos e supostos operadores de propina ligados ao MDB e ao Republicanos. As investigações acabaram sendo anuladas ou arquivadas de outras formas na Justiça nos últimos anos.
Na região do Porto, a inteligência tem sido vista como uma das armas do governo para o enfrentamento do crime organizado, e mesmo para manter o Planalto informado sobre questões sensíveis como impactos ambientais e econômicos de eventuais mudanças e concessões.
A atuação da inteligência na área do crime organizado foi discutida inclusive com empresários da região do Porto de Santos em um evento da Abin no ano passado. O evento foi promovido justamente na sede da Praticagem, em Santos. Práticos são os profissionais destacados para manobrar navios nos portos.
No evento, foi relatado sobre como agentes produzem relatórios sobre temas relacionados à infraestrutura do Porto, como o impacto de concessões e outras grandes mudanças relativas a privatizações e PPPs do governo. E também, sobre como a inteligência deve ser um dispositivo importante para combate às facções. Do evento, participaram representantes de empresas e até da Polícia Federal e da Receita.
A União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin, a Intelis, tem feito reiteradas reclamações em notas públicas sobre defasagem salarial e vacância de cargos. Em uma mais recente, a entidade afirmou que 80% dos cargos estão vagos e há “acentuada evasão” da Abin.