Menos da metade das latino-americanas (48%) fizeram o papanicolau, exame para a prevenção do câncer de colo do útero, nos últimos três anos. A desigualdade entre os países e regiões é um desafio para as metas de eliminação da doença da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que se reflete na diferença de incidência e mortalidade desse tumor.
A América do Norte, por exemplo, tem a menor taxa de mortalidade do mundo e a América Latina a segunda maior, só perdendo para a África. Os dados são de um estudo publicado no The Lancet.
O Brasil, com uma incidência de 15,38 a cada 100 mil mulheres/ano, ainda está longe do objetivo da OMS de quatro casos para cada 100 mil mulheres/ano até 2030. Mas, segundo os autores do estudo, a falta de dados consolidados em um único registro – considerando inclusive o sistema público e a saúde suplementar – pode gerar distorções nos números do rastreamento.
Atualmente, a doença é o terceiro tipo de câncer mais incidente em mulheres no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, e a quarta causa de morte por tumores em mulheres. Mas há grandes diferenças regionais: no Norte e Nordeste, está em segundo lugar, enquanto no Sul e Sudeste, ocupa o quarto e o quinto lugares, respectivamente, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“Quanto maior a interiorização, menos acesso ao diagnóstico e tratamento precoce”, diz o ginecologista e obstetra Mariano Tamura, do Hospital Israelita Albert Einstein.
De fato, a taxa de mortalidade na Região Norte, por exemplo, é o dobro da nacional – 9,07 contra 4,51. Embora um relatório recente do Inca estime que 80% das mulheres na faixa dos 25 aos 64 anos façam o rastreamento, há uma disparidade muito grande no acesso – tanto que 35% dos tumores ainda são diagnosticados em fase avançada. Cerca de 6% das brasileiras nunca fizeram o exame – e esse número chega a 15% em estados como Paraíba e Alagoas.
Recentemente, o exame molecular para detectar o HPV, considerado o padrão ouro para a prevenção e o rastreamento do câncer de colo de útero, foi incorporado pelo SUS. Esse teste coleta material genético do vírus e é capaz de apontar sua presença mesmo antes de qualquer sintoma ou lesão e, segundo a OMS, faz parte das estratégias para a redução dos casos.
Um câncer altamente prevenível
Causado pelo papilomavírus humano (HPV), o câncer de colo de útero pode ser evitado e normalmente tem uma progressão lenta a partir de lesões com potencial maligno. Para evitar o desenvolvimento da doença é preciso fazer o rastreamento e o diagnóstico precoce de lesões suspeitas.
Hoje, recomenda-se que as mulheres entre 25 e 64 anos façam o papanicolau anualmente. Após dois exames seguidos (com um intervalo de um ano) apresentando resultado normal, o preventivo pode passar a ser feito a cada três anos. Esse exame é capaz de apontar alterações suspeitas nas células, mas pode apresentar falhas. Já o teste molecular que detecta o HPV tem uma sensibilidade muito maior e ajuda a traçar o perfil de risco da paciente.
Vale lembrar que a prevenção da doença envolve o uso de preservativos nas relações sexuais e a vacinação contra o HPV, disponível na rede pública para meninas e meninos de 9 a 14 anos e pessoas imunossuprimidas entre 9 e 45 anos.
“É um câncer que costuma afetar mulheres entre 30 e 50 anos, que estão em idade reprodutiva e numa fase muito ativa da vida, muitas ainda não têm filhos ou têm filhos pequenos”, explica Tamura.
Quando diagnosticado em estágio inicial, o tratamento é mais fácil e pode ser feito de forma ambulatorial, com o uso de ácidos, laser e mesmo remoção cirúrgica, preservando o colo do útero, as funções uterinas e a fertilidade.
A iniciativa da OMS para a eliminação da doença ou a redução da incidência até 2030 inclui ter 90% das garotas vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade, garantir que 70% das mulheres entre 35 e 45 façam pelo menos dois exames de rastreio e tratar 90% das lesões pré-cancerosas e tumores invasivos.
Fonte: Agência Einstein
Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!