É um assunto recorrente na imprensa: o STF está com medo — bastante fundado — de que a extrema direita faça uma grande maioria no Senado, em 2026, e coloque na pauta o processo de impeachment de um ministro do tribunal.
A minha primeira observação é que não é verdade que só a extrema direita está insatisfeita com o STF e acha que é preciso reagir com força aos transbordamentos do tribunal. A centro-direita também se mostra descontente, e até uma parte da esquerda passou a ver com desconfiança a atuação de alguns ministros, na base do hoje é o meu adversário, amanhã sou eu.
Veja os jornalões paulistas, por exemplo: tanto o de centro-direita como o de centro-esquerda vêm dedicando editoriais muito críticos ao tribunal — seja ao seu conjunto, como a ministros. Não se pode dizer que estejam fazendo o jogo da extrema direita e sejam antidemocráticos.
A segunda observação é uma pergunta: o que o STF pretende fazer para diminuir essa insatisfação? Porque se é impeachment de ministros a proposta que pode convencer uma boa porção do eleitorado a escolher candidatos à direita, isso mostra que a percepção geral sobre a mais alta instância do Judiciário é pior do que mostram as pesquisas.
Seria recomendável que os ministros fizessem um exame de consciência. Não é possível que tanta gente assim esteja errada sobre a eternidade dos inquéritos sigilosos, o alongamento de prisões preventivas e as restrições à liberdade de expressão.
Também não pegam bem essa falta de transparência na agenda dos ministros e a facilidade com a qual alguns deles aceitam convites para debater o Brasil no exterior, como agora em Londres, a convite de pessoas e entidades com interesses diretos no STF.
Por que seria mais produtivo debater o Brasil no exterior do que em Quixeramobim ou em Catolé do Rocha? Estou exagerando apenas para enfatizar que parece que discutir o Brasil no exterior só serve de pretexto para usufruir de hotéis caros e restaurantes espetaculares também no preço.
Se o eleitorado fizer uma maioria de senadores dispostos a abrir processo de impeachment de ministro do STF, é porque o sentimento da população é semelhante ao expresso na canção do francês Georges Brassens, Le Gorille, que ganhou uma versão do italiano Fabrizio De André.
Na canção, que se tornou um clássico tanto na França quanto na Itália, um gorila exibido na praça de pequena cidade escapa da jaula e, diante da opção de se atracar com uma senhora ou um juiz, acaba escolhendo o magistrado que, naquele mesmo dia, havia mandado para a guilhotina um homem inocente. Um monte de gorilas podem ser eleitos em 2026.