A violência contabilizada pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas em 2023 exclui casos de lesões corporais provocados por brigas, facadas ou tiros que não produziram mortes, mas os números são altos e ocorrem em áreas que abrigam famílias de baixa renda, deslocadas para conjuntos habitacionais construídos para atender moradores retirados de áreas de risco.
Acostumados a morar em casas, ainda que em condições insalubres, essas famílias não são preparadas para conviver porta a porta com vizinhos, nem compartilhar animais, festas, algazarras e bebedeira no apartamento ao lado noite afora, o que gera violência.
Os casos de homicídio são grandes. Estima-se que dos cerca de 1 mil assassinatos registrados ano passado apenas em Manaus, 300 tenham ocorrido entre vizinhos, por causa do cachorro, do som alto, de ciúmes e bebedeira nessas áreas.
Mas o governo do Amazonas continua indiferente às consequências dessa mudança radical imposta às famílias que passam a morar em apartamentos.
A ideia de sanear os igarapés em tese é boa, mas a iniciativa tem se revelado apenas um verniz para outros fins. Primeiro, porque, como dissemos ontem neste espaço, não saneia os cursos d’agua que cortam a cidade e esse é o fundamento do projeto vendido ao Banco Interamericano de Desenvolvimento. Segundo, porque transforma os igarapés que ainda resistem em esgoto a céu aberto. Terceiro, porque não resolve o problema das família, que acabam ficando no mesmo local, mas agora em apartamento, convivendo com a violência e o crime.
Como parece não ter jeito e já venderam gato por lebre para o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), ao menos cabia uma ação social no sentido de preparar essas famílias a viver socialmente em apartamentos. Isso passa por uma política de educação, de convivência, envolvendo associações de bairro, igrejas, atividades esportivas, encontros entre moradores.
Os amazonenses, que compraram a propaganda do Prosamim como um projeto que mudaria a cara de Manaus, começam a se dar conta de que essa foi uma história bem contada, mas cheia de lacunas.
É chegada a hora de a sociedade, mais informada, exigir um debate mais apurado sobre o projeto. Afinal, são recursos fabulosos aplicados e cujo controle é entregue exclusivamente ao banco financiador, sem passar pelo crivo das entidades locais que existem exatamente para monitorar a aplicação de recursos pelo poder público. Afinal, quem ganha mais com o Prosamim são as construtoras amigas e quem sabe mais quem…