Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal (PF) sobre uma suposta organização criminosa que teria orquestrado um golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a apostar suas fichas no ato que convocou para o próximo domingo (25/2) na avenida Paulista, em São Paulo.
Em entrevista à CBN Recife, nesta quarta-feira (21/2), na sede do PL em Brasília, ele repetiu que será um “momento pacífico, em defesa do nosso Estado democrático de Direito”. E aproveitou para enviar um “recado”: “Eu apelo a todas as autoridades: vamos esfriar, vamos diminuir essa pressão”.
Bolsonaro já antecipou que deve se calar no depoimento à PF. Sua defesa alega que não teve acesso aos autos e à delação de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Mas, na entrevista, o ex-presidente negou qualquer intenção de tomar à força o poder depois de perder as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ressaltou que um “estado de sítio”, que o acusam de ter cogitado, dependeria do Parlamento brasileiro.
O ato de domingo, ele disse, será o fórum adequado para se defender das acusações. “[Servirá para] mostrarmos para o Brasil e para o mundo uma fotografia de verde e amerelo do candidato que foi derrotado em 2022”.
“E nesse momento, além da fotografia, eu me defenderia das acusações sobre esse golpe constitucional, de estado de sítio, que não foi dado o primeiro passo para decretação de estado de sítio. E repito: a palavra final para um estado de sítio é do Parlamento brasileiro, não é do presidente da República”, completou.
Ao contrário do tom agressivo que adotou em outras ocasiões, como no 7 de setembro de 2021, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “canalha”, Bolsonaro assegurou que a manifestação de 25/2 será pacífica.
Sem lacração
“É um momento pacífico, em defesa do nosso Estado democrático de Direito. Ninguém vai ali lacrar, fazer discurso para inflamar quem quer que seja. Vai estar presente o governador de São Paulo [Tracísio de Freitas], está previsto o de Goiás [Ronaldo Caiado], o Jorginho Mello, de Santa Catarina, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, entre outros prefeitos. Mais de 100 deputados confirmaram presença, mais de 10 senadores”, destacou.
Ao se dirigir a quem chamou de “autoridades”, Bolsonaro usou um tom mais conciliatório: “Eu apelo a todas as autoridades: vamos esfriar, vamos diminuir essa pressão”.
E lembrou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o tornou inelegível por conta da reunião com embaixadores estrangeiros onde pôs em dúvida o sistema eleitoral do Brasil: “Eu, no momento, nem cidadão sou, estou sem direitos políticos”.
Capital político
O ex-presidente voltou a se queixar de perseguição política e apontou o “motivo” para ser “perseguido”: seu “capital político”.
“Me aponte, nos quatro anos de governo, se eu persegui alguém, se eu persegui um filho do Lula ou quem quer que seja de esquerda. Se eu falei, se eu determinei que a Polícia Federal, via Ministério da Justiça, abrisse inquérito contra quem quer que seja. Eu não persegui ninguém. Por que essa perseguição em cima de mim? Porque ficou algum capital político”, raciocinou.
Ao final de entrevista, Bolsonaro voltou a pedir aos apoiadores para irem à Paulista no domingo. “É um ato sério. Nós podemos continuar nesse caminho de perder nossa liberdade através de um projeto que está da Câmara dos Deputados sobre controle da mídia social? Sem mídia social, eu já estaria condenado. Quando é que eu poderia mostrar à população essa falácia, essa coisa abstrata, inimaginável, descabida, de golpe via estado de sítio?”, questinou.