Um estudo conduzido por pesquisadores da Áustria revelou que mulheres que fazem sexo regularmente ou utilizam dilatação vaginal após o tratamento de quimiorradiação para o câncer de colo do útero têm menor risco de enfrentar efeitos secundários da terapia a longo prazo.
“A cura do colo do útero é sempre a nossa prioridade, e a prevenção e o tratamento dos efeitos colaterais são cada vez mais cruciais”, enfatizou a principal autora do estudo, Kathrin Kirchheiner, que é psicóloga clínica do departamento de radioterapia oncológica da Universidade Médica de Viena, ao site Eureka Alert. Os resultados foram apresentados nesta segunda-feira (2/10) na Reunião Anual da American Society for Radiation Oncology (ASTRO).
“Espero que esta investigação ajude a reduzir o tabu em torno da saúde sexual e torne mais fácil para os médicos discutir estas questões com seus pacientes”, destaca Kathrin.
O câncer do colo do útero é uma das formas mais comuns de tumores entre as mulheres, e geralmente é diagnosticado por volta dos 50 anos. O tratamento padrão para pacientes com a doença localmente avançada envolve radioterapia, quimioterapia e braquiterapia.
Nos últimos anos, avanços na braquiterapia, incluindo o uso de ressonância magnética para precisão na identificação do tumor e administração precisa de radiação, melhoraram significativamente as taxas de cura.
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Entretanto, altas doses de radiação próximas à vagina podem causar estenose vaginal (estreitamento da vagina) e mudanças de longo prazo no tecido da região, dificultando exames ginecológicos e causando desconforto durante o sexo.
Os médicos frequentemente recomendam a dilatação vaginal regular para mitigar esses efeitos e prevenir a formação de tecido cicatricial, mas não existiam muitos estudos quantitativos sobre o impacto dessa prática.
A pesquisa EMBRACE mediu os efeitos colaterais relatados por médicos e pelas próprias pacientes em uma amostra de 1.416 mulheres com câncer de colo de útero localmente avançado.
Entre elas, 882 participantes foram analisadas para comparar os efeitos colaterais em pessoas sexualmente ativas ou que utilizavam dilatação vaginal regularmente nos anos após o tratamento com aquelas que não seguiam a rotina.
Ao longo dos cinco primeiros anos após o tratamento, as pacientes passaram por uma média de 11 consultas de acompanhamento com exames ginecológicos para avaliar os efeitos colaterais vaginais e preencheram questionários sobre qualidade de vida, atividade sexual e dilatação vaginal.
Os resultados mostraram que a dilatação vaginal regular e/ou atividade sexual foram significativamente associadas a um menor risco de encurtamento e estreitamento vaginal moderado de grau 2 ou superior.
Sexo pode prevenir estreitamento vaginal
As pacientes que relataram fazer a dilatação vaginal e mantiveram a atividade sexual tiveram o menor risco de estenose vaginal de grau dois (18%), seguidas por aquelas que eram sexualmente ativas, mas não utilizavam dilatação vaginal (23%), e das que usavam dilatação, mas não eram sexualmente ativas (28%).
Pacientes que não praticavam dilatação ou relações sexuais regulares tinham maior probabilidade de apresentar estenose moderada (37%).
Em contrapartida, foi observado que a atividade sexual regular e/ou dilatação vaginal estava associada a um risco ligeiramente maior de sintomas genitais leves, como secura e sangramento de grau um.
Kathrin ressalta que esses efeitos secundários menores podem ser controlados com medidas como lubrificantes, hidratantes e/ou terapia de reposição hormonal, e que os riscos menores não devem desencorajar as pacientes de praticar a dilatação ou ter relações sexuais, pois as atividades podem ajudar a prevenir problemas mais sérios e irreversíveis.
Ela também mencionou que há espaço para futuras pesquisas explorarem o papel da excitação sexual no processo de cicatrização dos tecidos e na saúde vaginal, dada a vantagem observada da atividade sexual sobre o uso de dilatadores em seu estudo.
No entanto, a pesquisa sobre saúde sexual após o tratamento do câncer pode ser complexa, pois envolve questões altamente pessoais e sensíveis. Kathrin destacou a importância de abordar o tópico com respeito e compreensão, tanto na pesquisa quanto no atendimento aos pacientes.
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