São Paulo – A dona de clube de tiro Mônica Montanari de Martino, de 52 anos, briga na Justiça de São Paulo para ficar com as armas do empresário Thiago Brennand, 43, como forma de pagamento de uma suposta dívida de R$ 350 mil.
Brennand está preso preventivamente na capital paulista desde abril. O empresário é acusado de crimes de estupro, tortura, ameaça e cárcere privado. Ele alega inocência em todas as acusações.
Atirador desde 1994, Brennand era dono de um verdadeiro arsenal (veja imagens abaixo). Em março de 2023, operação da Polícia Civil apreendeu 74 armas de fogo do empresário – sendo 37 pistolas, 28 fuzis, três metralhadoras, três escopetas, além de um rifle, uma carabina e uma espingarda.
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As armas estavam guardadas no clube de tiro Atibaia Shooting Academy (ASA), em Atibaia, no interior paulista, estabelecimento ligado a Mônica.
Já no cofre da mansão de Brennand na Fazenda Boa Vista, condomínio de luxo em Porto Feliz, a polícia encontrou acessórios, como lanternas, mira a laser e lunetas de longo alcance.
Na investigação, conduzida pelo 15º Distrito Policial (Itaim Bibi), o Exército Brasileiro informou que o empresário teve o registro cancelado de CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador), em meados de novembro de 2022, por perda de idoneidade – ocasião em que é obrigado a se desfazer do acervo.
Pelas regras, quem tem arma não pode ser alvo de inquéritos ou processos criminais, senão perde o direito de ter o armamento.
Arsenal apreendido
Na época da apreensão do arsenal, Brennand ainda era considerado foragido da Justiça brasileira. Ele foi extraditado dos Emirados Árabes, em operação da Polícia Federal (PF), no fim de abril.
Foi Mônica quem recebeu os policiais civis que cumpriram o mandado de busca e apreensão em Atibaia. Segundo o inquérito, a ação já estava combinada com um dos advogados de Brennand e a responsável pelo clube de tiro “se prontificou a entregar as armas imediatamente”.
Ela é esposa de Pedro Henrique Moreira, mais conhecido no universo dos CACs como Pedrão Shooter. É no nome dele que o clube de tiro está registrado. No estabelecimento, a mulher exerce os cargos de administradora e diretora jurídica.
Levada à delegacia no papel de testemunha, Mônica também alegou que o empresário tinha dívida ativa com o clube e que já havia negociado a transferência de 40 armas de Brennand para o seu nome, com objetivo de revendê-las para quitar o valor do débito.
Disputa de versões
No dia 30 de junho, Mônica entrou com uma petição no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) para reivindicar parte das armas apreendidas e pedir a devolução. Como prova, anexou o número de protocolo dos pedidos de transferência, datados de outubro de 2022, em que soliticitava ao Exército parte da coleção de Brennand.
“O equívoco que se deu por parte do Exército em declarar que as armas não haviam sido transferidas e foi continuado pelo delegado (…), pois [as armas] estão regularmente registradas em nome desta declarante e não deveriam ter sido apreendidas”, escreveu a advogada Juliana Lucindo de Oliveira, que assina a petição.
No pedido, Mônica também argumenta que “realizou negócios lícitos” com Brennand e que não pode ser prejudicada, “pois agiu de boa fé e cumpriu toda a legislação vigente”.
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Thiago Brennand
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Thiago Brennand em hotel de Abu Dhabi
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Ao analisar a petição, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) avaliou que faltavam “elementos mínimos que tragam a verossimilhança” no pedido. “O próprio Exército Brasileiro informou que o investigado Thiago Brennand não noticiou à Administração Militar o desfazimento de seu acervo”, diz o parecer, assinado por quatro promotores do Gaeco de Sorocaba.
“A requerente, em síntese, aponta somente o mero protocolo do pedido de transferência das armas de fogo, desacompanhado da necessária decisão do Exército Brasileiro autorizando a transferência pretendida”, escreveram.
Com aval do MPSP, a Polícia Civil pediu neste mês mais prazo para investigar a versão apresentada. O processo segue em aberto.
Brennand
Brennand está preso no Centro de Detenção Provisória 1 (CDP) de Pinheiros, na capital paulista, acusado de crimes de estupro, lesão corporal, cárcere privado, corrupção de menor. Ele diz ser inocente em todas.
No início do mês, Brennand fez acordo e pagou R$ 18 mil para um caseiro encerrar a ação em que era acusado de ameaçá-lo. Outras oito ações seguem sem sentença.
Em julho, o Metrópoles mostrou, com exclusividade, os detalhes do primeiro depoimento de Brennand à Justiça. “Eu estou aqui preso por vontade própria”, declarou o empresário, na ocasião.