O Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) anunciou num comunicado de imprensa que tinha “desmantelado uma rede de agentes” do Serviço Federal de Segurança russo (FSB, ex-KGB) que preparava “o assassinato do presidente ucraniano”, e que prendeu dois oficiais envolvidos nesta conspiração. O diretor de inteligência militar, Kyrylo Budanov, e o comandante do SBU, Vassyl Maliouk, também eram visados por Moscou.
Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, Kiev já relatou várias tentativas de assassinato de Zelensky. É sabido que a Rússia tem agentes pró-Moscou no aparelho militar e de segurança ucranianos, embora o fracasso da ofensiva contra Kiev tenha demonstrado desde o começo da guerra alguns limites dos serviços secretos do Kremlin.
Desta vez, o SBU alegou ter prendido “dois coronéis” do serviço estatal ucraniano que garantiam a segurança de autoridades públicas. “Eles foram presos há poucos dias”, disse à AFP uma fonte ucraniana. “Eram homens de alto escalão, um deles dirigia um departamento”, acrescentou a fonte. Os dois militares teriam “transmitido informações confidenciais” à Rússia e foram recrutados pelo FSB antes da invasão de 2022, afirmou o SBU.
“Presente” para Putin
Os suspeitos são acusados de “alta traição” e de “planejar um ataque terrorista”. Ambos podem ser condenados à prisão perpétua, acrescentou a fonte ucraniana. Os dois coronéis tentaram recrutar militares da equipe de segurança de Zelensky para “sequestrar e matar” o presidente, segundo o SBU.
Em vídeo publicado pelo órgão, um homem que aparece com o rosto desfocado para não ser reconhecido diz que deveria recomendar ao FSB uma pessoa disposta a “bloquear” Zelensky, de preferência à noite, no momento em que o líder ucraniano grava diariamente um vídeo para a nação. Um dos membros deste suposto grupo recrutado por Moscou teria obtido drones e explosivos, acrescenta o SBU.
Os suspeitos tinham planejado “liquidar” esta semana Kyrylo Budanov, diretor de inteligência militar de Kiev, apontado como autor de operações arriscadas em solo russo. A morte de Boudanov seria um “presente” para a cerimônia de posse do 5° mandato do presidente Vladimir Putin, ocorrida nesta terça-feira, segundo o SBU.
De acordo com a mesma fonte ucraniana, um dos coronéis detidos tinha a tarefa de observar um edifício onde Budanov chegaria de carro e transmitir esta informação ao FSB para que Moscou pudesse atacar o local com um míssil.
“Forte explosão”
Este coronel deveria, então, lançar um ataque de drone contra possíveis sobreviventes. Na sequência, um segundo míssil russo seria enviado para “apagar os rastros”, de acordo com o SBU.
Em gravação divulgada pelas autoridades de segurança ucranianas, ouve-se a voz de um homem apresentado como funcionário do FSB dando instruções ao seu interlocutor, que pergunta em quanto tempo ele deve deixar o local antes do disparo do míssil. “Você terá pelo menos 20 ou 30 minutos” para sair, explica o suposto agente do FSB. Então, “você provavelmente ouvirá uma forte explosão”, acrescenta.
O suspeito iria receber um pagamento de US$ 50 mil a US$ 80 mil para executar o plano, acrescenta o SBU no vídeo.
Esta não é a primeira vez que Kiev acusa a Rússia de tentativas de assassinato contra Zelensky, assessores do presidente ou seus familiares. Em abril, um homem suspeito de ajudar a inteligência russa a preparar um ataque contra o líder ucraniano foi preso na Polônia, segundo procuradores poloneses e ucranianos.
A Rússia tem sido frequentemente acusada de matar adversários do Kremlin em território russo e no exterior, mas sempre rejeitou as acusações.