Os casos de doenças hepáticas relacionadas ao álcool estão subindo em todo o mundo. Nos Estados Unidos, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), na comparação com níveis pré-pandemia (2019), os últimos anos registraram mais de 30% de aumento no número de mortes, com mais de 50 mil vítimas em 2021, 2022 e 2023.
Especialistas alertam que as doenças do fígado também têm sido responsáveis por um aumento de casos no Brasil, embora levantamentos tão robustos quanto o americano ainda não tenham sido feitos no país. Apesar de não existirem estatísticas precisas, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) estima que, em 2021, 10,8 mil óbitos poderiam ter sido evitados no Brasil se o consumo de álcool fosse evitado.
Estes casos extremos são normalmente associados à cirrose hepática. Entretanto, uma condição prévia pode aparecer na maioria das vítimas e muitas vezes passa desapercebida: a esteatose hepática.
A doença silenciosa ligada ao álcool
A esteatose hepática é o excesso de gordura no fígado e é um dos primeiros sinais de que a saúde do órgão não vai bem. Porém, ela muitas vezes é ignorada por pessoas que têm o hábito de beber.
“A esteatose acomete cerca de 30% da população geral e 90% dos alcoolistas crônicos. Desde que a hepatite C passou a ser curável, calculamos que em breve o excesso de gordura no fígado será a principal condição a levar pacientes para a fila dos transplantes do órgão”, explica a cirurgiã do aparelho digestivo Ana Olga Nagano Gomes Fernandes, diretora do Instituto de Obesidade e Diabetes do Hospital Moriah, em São Paulo.
A esteatose é considerada pelos especialistas uma primeira fase da condição que futuramente poderá ser uma doença hepática relacionada ao álcool ou mesmo uma cirrose. A forma mais grave das doenças hepáticas relacionadas ao álcool ocorre em aproximadamente 20% das pessoas com esteatose e que bebem, segundo especialistas ouvidos pelo The New York Times.
O excesso de gordura no fígado pode facilitar as inflamações no órgão — nesses momentos, o tecido hepático, conhecido por sua capacidade de se regenerar, se torna cicatricial, perdendo a plasticidade e levando a hepatites graves.
Sintomas e progresso da doença hepática relacionada ao álcool
O progresso da condição é lento e muitas vezes pode tomar décadas — por isso, os pacientes se preocupam pouco com o quadro. Também não existem sintomas iniciais, e a doença hepática relacionada ao álcool normalmente é diagnosticada em exames de rotina. O tratamento exige mudanças de hábito (melhor alimentação e exercícios físicos regulares), que não costumam engajar os pacientes.
Quando os sintomas aparecem, o paciente já está no quadro de cirrose. Os principais sinais são grandes inchaços, especialmente no abdômen e nas pernas; dor na barriga; icterícia (que indica a perda de funcionalidade do fígado); urina e vômito com sangue.
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Os tratamentos
O fígado é o órgão do corpo humano com maior capacidade de regeneração, portanto, nos estágios iniciais da doença hepática, deixar de beber pode levar a uma cura total. A dependência química do álcool deve ser tratada por especialistas e cuidada para que a transição seja saudável e segura.
A cirrose, entretanto, é incurável. Mas, mesmo em pacientes que já têm a condição, deixar de beber pode diminuir o risco de morte pela metade.
Quem corre mais riscos?
Mulheres que bebem mais de três doses de bebida por dia ou homens que ultrapassam as quatro doses diárias (cada dose corresponde a uma lata de cerveja ou uma taça de vinho) são os que correm mais riscos de desenvolver doenças graves e até fatais no fígado.
Condições metabólicas, como obesidade, diabetes ou hipertensão, também podem danificar o fígado e, se combinadas ao álcool, são mutuamente potencializadas.
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