O Brasil iniciou 2024 preocupado com um inimigo minúsculo, mas que tem o poder de fazer um estrago gigante: o Aedes aegypti — e, com ele, a dengue.
O país bateu recorde de mortes por dengue no ano de 2023. Foram 1.079 vidas perdidas para a doença, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
Em 2024, o Brasil pode atingir números ainda piores: estimativas da Saúde apontam que os casos da doença podem ir de 1,7 milhão até 5 milhões, com média de 3 milhões.
O Brasil registrou, em janeiro, 243.721 casos de dengue. Os dados mostram aumento de 160% na comparação com janeiro de 2023, quando foram notificados 93.298.
Mesmo com maior número de ocorrências, as mortes em decorrência da doença caíram de 61, em janeiro de 2023, para 24, neste primeiro mês de 2024. Há 163 óbitos sob investigação.
Tudo é resultado de uma combinação de fatores, como calor intenso, chuvas abundantes e ressurgimento dos sorotipos 3 e 4 do vírus que causa a doença. Ou seja: o país pode registrar recordes na quantidade de casos e de mortes.
Para evitar esse cenário, o governo aposta na vacina contra a dengue, recém-incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Mas nunca é demais lembrar: a população precisa fazer a sua parte.
“A vacina é nossa esperança para um futuro sem dengue, mas hoje não é o instrumento de maior impacto. Temos de, principalmente, prevenir e cuidar: fazer o controle dos focos do mosquito em nossas casas e cuidar de quem adoece. Contamos com todas e todos nessa campanha”, ressalta a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Qdenga
A partir desta semana, o Ministério da Saúde disponibilizará a vacina Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, a um público-alvo composto, inicialmente, por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que apresenta maior risco de agravamento, em regiões com maior incidência da doença. Serão duas doses, com intervalo de 90 dias entre ambas.
O primeiro lote com cerca de 757 mil doses chegou ao Brasil em 20 de janeiro. Faz parte de um total de 1,32 milhão de doses fornecidas pela Takeda. Outra remessa, com mais de 568 mil doses, está com entrega prevista para fevereiro.
O Ministério da Saúde adquiriu o quantitativo total disponível pelo fabricante para 2024: 5,2 milhões de doses, que devem ser entregues até dezembro. Para 2025, a pasta comprou outras 9 milhões de doses.
A vacina será aplicada na população de regiões endêmicas, distribuída em 521 municípios.
Na rede privada, também está disponível a vacina Dengvaxia, do laboratório Sanofi. Ela é indicada para pessoas entre 6 e 45 anos que já tiveram a doença. O custo varia entre R$ 400 e R$ 500.
Também na América Latina
A dengue preocupa não só o Brasil, mas toda a América Latina, principalmente neste início do ano, quando as chuvas e o calor propiciam o ambiente ideal para a proliferação do Aedes. Mas a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também demonstra otimismo com o advento das vacinas.
“Nós estamos enfrentando uma situação preocupante da dengue praticamente na América do Sul inteira. Já tivemos ano passado o maior índice de casos registrados nas Américas, com mais de 4 milhões de casos. E, nesse começo do ano, a transmissão segue muito forte. A vacina contra a dengue é uma excelente notícia”, ressalta o brasileiro Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Opas, com sede em Washington (EUA).
Mas ele faz o alerta: evitar a proliferação do mosquito ainda é a maior arma contra a doença. “[Vacina] pode ser um instrumento importante, mas, devido às características da vacina de duas doses, por conta da quantidade muito limitada que está disponível, o grande instrumento que nós temos nesse momento para diminuir a transmissão é o controle de vetores. Por um lado, as ações dos governos e, de outro, as ações das comunidades, das pessoas. Lembrando que mais de 80% dos focos de mosquito estão no domicílio ou no peridomicílio”, diz Barbosa.
Além disso, o dirigente da Opas observa que a rede de serviços de saúde — que inclui a pública e a privada — precisa estar preparada para diagnosticar rapidamente os sinais de agravamento da dengue e, assim, evitar mais mortes.
“A grande parte dos óbitos que ocorre por dengue pode ser evitada se a rede pública e privada, as emergências e a atenção primária estiverem bem preparadas para diagnosticar os casos e identificar rapidamente os sinais e sintomas de agravamento”, destaca o diretor-presidente da Opas.
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Mortes podem ser evitadas
A dengue é uma doença febril aguda. A maioria dos doentes se recupera. Mas uma parte pode progredir para formas graves e, inclusive, vir a óbito. A quase totalidade das mortes por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada.
Veja os sintomas mais comuns:
- dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua;
- vômitos persistentes;
- acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico);
- hipotensão postural e/ou lipotímia;
- letargia e/ou irritabilidade;
- aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia) > 2cm;
- sangramento de mucosa; e
- aumento progressivo do hematócrito.
Passada a fase crítica da dengue, o paciente entra na fase de recuperação. No entanto, a doença pode progredir para formas graves, que podem levar à morte.
O tratamento é baseado, principalmente, na reposição de líquidos adequada e:
- repouso;
- não se automedicar e procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou surgimento de pelo menos um sinal de alarme; e
- retorno para reavaliação clínica conforme orientação médica.
Em períodos em que a doença não está no seu pico é que a prevenção deve ser adotada. Por isso, além das ações realizadas pelos agentes de saúde, a população deve fazer a sua parte com ações como:
- uso de telas nas janelas e repelentes em áreas de reconhecida transmissão;
- remoção de recipientes nos domicílios que possam se transformar em criadouros de mosquitos;
- vedação dos reservatórios e caixas de água;
- desobstrução de calhas, lajes e ralos; e
- participação na fiscalização das ações de prevenção e controle da dengue executadas pelo SUS.