Depoimentos de militares colocam Bolsonaro no centro de trama golpista

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Embora Jair Bolsonaro (PL) tenha escolhido se calar à Polícia Federal (PF), depoentes do entorno dele narraram aos investigadores uma suposta trama golpista que tem o ex-presidente no centro. Ao todo, 27 depoimentos — dos quais parte revela detalhes do plano — tiveram o sigilo derrubado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nesta sexta-feira (15/3).

Além do ex-presidente, outros 13 depoentes permaneceram em silêncio e não responderam às perguntas dos agentes da PF. Aos que decidiram falar, os investigadores dirigiram perguntas sobre uma suposta trama golpista que buscava reverter o resultado das Eleições de 2022 e manter Bolsonaro no poder.

Destacam-se os depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas. O general Marco Antônio Freire Gomes detalhou à PF encontros em que foram apresentadas minutas de teor golpista. Nos planos, estaria a instalação de instrumentos como a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o Estado de Defesa e o Estado de Sítio.

O relato do general dá conta de que, em 7 de dezembro, teria se reunido com Bolsonaro. Na ocasião, o assessor especial da Presidência Filipe Martins leu trechos de um texto que seria usado para justificar a minuta do golpe. Em outra ocasião, no mesmo mês, um novo texto teria sido apresentado a ele.

Freire Gomes disse aos investigadores ter alertado Bolsonaro sobre as implicações criminais do plano e por que não considerava possível reverter o resultado das eleições. Também em depoimento, o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) Carlos Almeida Baptista Júnior disse que Freire Gomes teria ameaçado o ex-presidente de prisão caso seguisse em frente com o plano.

Tanto o então comandante do Exército quanto o então comandante da Aeronáutica disseram ter recusado aderir à iniciativa, o oposto do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. Ele, no entanto, permaneceu em silêncio no depoimento à PF.

Depoimentos detalham plano

Para Baptista Júnior, a posição contundente do ex-comandante do Exército foi responsável por impedir outro golpe de Estado no Brasil e  disse que, “caso o comandante tivesse anuído, a possível tentativa de golpe de Estado teria se consumado”.

O ex-comandante da Aeronáutica também contou que Bolsonaro enfatizava a necessidade de “parar eventuais abusos” de Alexandre de Moraes. Aos investigadores ele ainda disse que o então presidente procurou a Advocacia Geral da União (AGU) para uma “alternativa jurídica” que contestasse os resultados das eleições.

O presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, por sua vez, afirmou que a ideia de contratar um instituto para realizar um estudo sobre as urnas eletrônicas também partiu de Bolsonaro e que o Instituto Voto Legal teria sido indicado pelo então ministro da Ciência e Tecnologia e atual senador, Marcos Pontes (PL-SP). A informação é da coluna de Igor Gadelha.

Bolsonaro quebra o silêncio

No depoimento de 22 de junho, na sede da PF, em Brasília (DF), Bolsonaro permaneceu em silêncio. Na data, o advogado Paulo Bueno, que representa Bolsonaro, disse que a escolha de não responder às perguntas seria uma “estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos os quais estão sendo imputados pela prática de certos delitos”. “O presidente não teme nada porque não fez nada”, disse o também advogado Fabio Wajngarten

À coluna de Paulo Cappelli, do Metrópoles, após a suspensão dos sigilos dos depoimentos, Bolsonaro afirmou que “não é crime” falar sobre o que está previsto na Constituição Federal e ainda sustentou que nenhuma das medidas foi levada adiante.

“Sobre o Estado de Defesa e o Estado de Sítio, precisa convocar um conselho com diversos integrantes. Para que fosse implementado, precisaria convocar o conselho, inclusive com presidente da Câmara e do Senado. E não teve nenhum conselho convocado. Aqui não é Hugo Chávez, Maduro. Dados os considerandos, quem dá a palavra final é o Parlamento. Já a Garantia da Lei e da Ordem não se pode fazer do nada. Tem que ter fundamento”, informou.

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