Um descuido do tenente-coronel Mauro Cid, em especial por conta do currículo do militar, virou assunto em rodas de conversa em Brasília. Em junho 2022, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro gravou uma reunião entre o então presidente e integrantes do alto escalão do governo na qual foram discutidos cenários para, em caso de derrota, evitar a posse de Lula.
Mauro Cid decidiu armazenar o vídeo em um computador que ficava em sua própria casa. E nele o deixou. O aparelho eletrônico foi apreendido pela Polícia Federal (PF), em maio de 2023, quando o ex-ajudante de ordens foi preso no âmbito das investigações sobre a fraude no cartão de vacinação do ex-presidente. Na época, já era público e notório que a Polícia Federal investigava uma tentativa de golpe no fim do governo Bolsonaro.
A gravação encontrada com Mauro Cid foi citada pela Polícia Federal como um dos principais elementos para embasar a operação Tempus Veritatis, nesta quinta-feira (8/2).
O descuido de Cid surpreendeu aliados e adversários de Bolsonaro por conta do currículo do militar. Filho de general, ele passou em primeiro lugar no mestrado em Operações Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército. E, ainda, em terceiro lugar para a famosa Aman [Academia Militar das Agulhas Negras].
Operação da PF contra o PL no Brasil 21-1
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Para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a reunião “revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral”.
Longa carreira no Exército
Mauro Cid se formou em terceiro lugar na Academia Militar das Agulhas Negras em 2000, onde concluiu seu bacharelado em Ciências Militares. Em 2009, ficou em primeiro lugar no mestrado em Operações Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO).
Cid é doutor em Ciências Militares pelo Instituto Meira Mattos da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) e especialista em Ações de Comandos (2002) e em Guerra Irregular (2003) pelo Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército Brasileiro.
Além de Jair Bolsonaro, a reunião filmada por Mauro Cid contava com a presença dos ex-ministros Anderson Torres, da Justiça, general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Paulo Sérgio Nogueira, da Defesa, Mário Fernandes, da Secretaria-Geral da Presidência, e do vice-presidente Walter Braga Netto. Todos foram alvos da operação desta quinta.
Disse Moraes na decisão:
“A reunião, segundo a Polícia Federal, também teve como finalidade cobrar dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral: promoção e a difusão, em cada uma de suas respectivas áreas, desinformações quanto à lisura do sistema de votação, utilizando a estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e desgarrados do interesse público.
Essa narrativa serviu, como um dos elementos essenciais, para manter mobilizadas as manifestações em frente às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe de Estado em andamento”.