O caso Robinho voltou a ganhar repercussão internacional com a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que o ex-jogador poderia cumprir a pena no Brasil pelo crime de estupro. Condenado a uma pena de 9 anos, em 2022, pela Justiça italiana, o ex-atleta passou a ser considerado foragido pelo país europeu ao voltar a morar no Brasil.
Assim como Robinho, outros estupradores fogem da Justiça. No Distrito Federal, 35 criminosos são procurados há mais de 10, com mandados de prisão expedidos, solicitando a captura por estupro. O Metrópoles consultou todos os 329 mandados de prisão abertos no DF há mais de uma década, e dividiu pela tipificação criminal.
Os dados são do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O mandado aberto de estupro mais antigo no Distrito Federal é de 2003. O pedreiro Ortêncio Santos de Jesus foi condenado pelo artigo 214 do Código Penal. “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”.
A condenação de Ortêncio cita que ele abusou sexualmente de uma pessoa vulnerável. Na época, o crime – que era considerado atentado violento ao pudor – foi revogado em 2009, e sua conduta inserida dentro do crime de estupro.
O segundo mandado de prisão por estupro em aberto há mais tempo é contra o lavrador Francisco das Chagas Borges da Silva. Ele é procurado desde 2007, também por ter abusado de uma pessoa em situação de vulnerabilidade. No mesmo ano, o baiano Manoel Messias de Sousa passou a ser procurado por estupro de vulnerável.
A pena máxima desses crimes era de 10 anos. Ou seja, eles são procurados há mais tempo do que a própria punição.
O ano com mais criminosos foragidos há mais de 10 anos por estupro é 2013. Dos 35 casos, 23 são referente a esse período, cerca de um por mês naquele ano.
Em 2014, os números também são altos. Até 23 de março, quatro mandados foram abertos procurando criminosos.
O crime, infelizmente, não ficou restrito aos anos anteriores. Nesta semana, um menino de 10 anos foi abusado sexualmente por um estuprador em um banheiro químico na QR 110 do Recanto das Emas.
A criança precisará de acompanhamento psicológico e de atendimento por equipes do Conselho Tutelar. Até a última atualização desta reportagem, o criminoso não havia sido sequer identificado, e seguia foragido.
Mais de uma acusação de estupro
Em 2003, quando a Justiça procurava por Ortêncio, o primeiro foragido do DF pelo banco de dados do CNJ, Robinho estampava os cadernos de esportes em todos os jornais. Naquele ano, o atleta era apontado como a grande promessa do futebol brasileiro.
No ano anterior, com apenas 18 anos, os dribles do atleta chamaram a atenção na final do Campeonato Brasileiro, que garantiu um 3 x 2 para o Santos sobre o Corinthians.
Robinho foi contratado por clubes europeus e jogou pelo Real Madrid e Manchester City. No time inglês, Robinho enfrentou a primeira acusação de estupro, mas foi inocentado por falta de provas. A imagem do ex-jogador passou ilesa à época.
Relembre áudios de Robinho usados em condenação por estupro na Itália
Foi somente nos últimos dez anos que Robinho viu a vida mudar. O atleta passou a responder a um crime ocorrido em 2013, na boate Sio Caffé, em Milão, na Itália.
Por cerca de um ano, a Justiça italiana grampeava Robinho em conversas com amigos. Áudios de 2014 apontaram o envolvimento do jogador no estupro coletivo. Outros quatro brasileiros foram acusados de estuprar uma moça de origem albanesa na ocasião.
Nas conversas, o jogador debocha da vítima, lembrando que ela estava completamente bêbada. Em determinado momento, ele assume que tentou fazer sexo oral com a mulher, mas afirma que isso “não significa transar”.
Em 2022, ele foi condenado a 9 anos em última instância pelo crime de estupro coletivo. Ele já estava no Brasil e a Itália pedia a extradição para cumprir pena no país europeu.
A extradição foi negada, mas a Itália pediu, então, que o atleta cumprisse pena no Brasil. O caso transitava no STJ desde então. Na quarta-feira (20/3), o STJ validou a sentença. No dia seguinte, o ex-camisa 7 da Seleção Brasileira foi detido e encaminhado para a prisão de Tremembé.