Em legítima defesa, Israel atira em multidão de palestinos famintos

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Palestinos famintos de Gaza foram os culpados pela morte de mais de 100 deles, soube ontem à noite pelo Jornal Nacional. Foi assim, segundo um porta-voz militar do governo de Israel: uma multidão atacou caminhões com comida que davam entrada na Faixa de Gaza, e muitas pessoas acabaram atropeladas, feridas e mortas.

Eram pessoas famintas, que sobrevivem a duras penas comendo cactos e vendo os filhos desnutridos. Em mais de quatro meses de guerra, chegaram a entrar em Gaza cerca de 500 caminhões por dia com comida, água, remédios e combustível. Ultimamente, o número caiu para 50, e há dias que Israel os impede de entrar.

Instalada a confusão, o que o Exército de Israel fez para restabelecer um mínimo de ordem? Primeiro, tanques e drones atiraram para o alto em sinal de advertência. Veja só: não adiantou. Ou porque os palestinos estão com muita fome a ponto de não se assustarem com tiros, ou porque são indisciplinados.

Aí, com todo o cuidado, os soldados de Israel atiraram na direção dos pés dos palestinos, com a preocupação de não provocar uma tragédia, contou o porta-voz do governo de extrema-direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Mas, acredite e veja como são os palestinos: continuaram avançando sobre os caminhões.

Quem seria capaz de ignorar os tiros de advertência do mais poderoso Exército do Oriente Médio, primeiro para o alto, depois na direção dos pés sem os quais, ou com eles feridos, qualquer pessoa para de andar e cai? Vai ver que só palestinos são capazes de uma proeza como essa. Foi, porém, o que aconteceu. O que fazer?

Então os soldados de Israel, segundo a versão oficial do governo de Israel, naturalmente sentiram-se ameaçados. Quem não se sentiria? Afinal, o alvo da multidão poderia não ser só os caminhões, mas também os tanques e os soldados que os cercavam. Os drones, não, porque seria impossível derrubá-los, a não ser com armas.

Ali, no cenário do conflito, fora as tropas de Israel, ninguém tinha armas. Essa é uma característica desta guerra: de um lado, um exército armado até os dentes, dispondo das mais modernas armas do arsenal dos Estados Unidos e de países europeus; do outro… Bem, o outro lado não tem Exército, a não ser um grupo de terroristas em fuga.

Se os tiros para o alto, e depois para os pés, não detiveram a multidão, os soldados de Israel atiraram na multidão. Correr o risco de serem mortos por uma multidão desarmada? E se parte dela escondesse armas? Mata-se também com as mãos. Portanto, é o que concluo, foi um ato de legítima defesa dos soldados de Israel, e ponto final.

Ponto final, ainda não, porque o presidente da França, Emmanuel Macron, saiu logo a escrever no X, ex-Twitter:

“Expresso a minha mais veemente condenação destes tiroteios e apelo à verdade, à justiça e ao respeito pelo direito internacional”.

De todo modo, Macron foi prudente. Ele falou em tiroteios, mas não apontou culpados. Até Israel admite que atirou na multidão. Mas, se mais tarde ficar provado que Israel acertou ao atirar? Acertou no sentido de que não lhe restava outra coisa a fazer, não no sentido de acertar nos palestinos? Como se vê, Macron é um estadista.

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, ainda foi mais prudente do que Macron. Agências de notícias informaram de imediato:

“Biden diz que ataque de Israel a palestinos dificulta cessar-fogo”.

Que mais ele poderia ter dito no calor da hora? Momentos antes, seu principal assessor para assuntos militares, em depoimento a uma comissão do Congresso, admitiu a morte de 25 mil mulheres palestinas. A fala dele foi gravada, embora a Casa Branca tenha, mais tarde, tentado corrigi-la, mas sem sucesso.

Israel é o grande porta-aviões dos Estados Unidos no Oriente Médio, afirmou Biden à época em que era senador. Não só por isso, mas também por isso, Israel dita parte da política externa americana. Os Estados Unidos acabam fazendo o que Israel quer. Não há sinais de que isso mudará um dia. A matança em Gaza não cessará tão cedo.

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