Com o sucesso da quarta temporada de The Chosen nos cinemas, muitos fãs, e até espectadores novos, voltaram (ou começaram) a maratonar os primeiros anos da série na Netflix. Com a alta dos primeiros episódios no streaming, uma dúvida voltou a gerar comentários nas redes sociais: por que Maria Madalena é chamada de Lilith na produção?
Para responder essa pergunta é preciso explicar, antes, que The Chosen é inspirada no texto bíblico, mas não uma reprodução fiel das escrituras sagradas. Sendo assim, o criador e diretor da obra, Dallas Jenkings, e o roteirista, Tyler Thompson, tiveram total liberdade poética para inserir diálogos, personagens e até cenas inteiras que não estão, necessariamente, descritas em nenhuma parte da Bíblia. Como é o caso do apóstolo Mateus, que na série é retratado como autista (e o Metrópoles já explicou o motivo), mesmo sem menção a isso nos Evangelhos.
Em The Chosen, Maria Madalena (Elizabeth Tabish) é uma mulher que perdeu o pai quando criança e que foi abusada sexualmente por um soldado Romano. Vulnerável, ela convive com sete demônios em seu corpo, impossíveis de serem exorcizados pelos religiosos da época. Apenas o filho de Deus é capaz de curá-la, e assim se faz o milagre.
Em entrevista ao portal The Chosen Br, Tyler Thompson diz que surgiu dele a ideia de chamar Maria Madalena de Lilith. “Escolhemos o nome Lilith por causa de sua associação com mitologias demoníacas judaicas. Também porque a palavra hebraica ‘lilit’ tem associações com noite e escuridão, e queríamos retratar Maria como alguém que estava presa na escuridão espiritual, separada de Deus, de si mesma e dos outros”, diz o roteirista.
Segundo Dallas Jenkings afirma no Deep Dive, Lilith é o nome que Maria Madalena se dá como forma de “esquecer seu passado, de negar quem ela realmente era”.
O apagamento histórico de Maria Madalena
Umas das personagens mais controversas da Bíblia, Maria Madalena foi erroneamente confundida com prostituta no século VI, em um sermão do papa Gregório. Desde então, foi retratada como a pecadora “arrependida” por mais dois mil anos. O equívoco apagou da história o papel e relevância da mulher escolhida por Jesus para ser a primeira a vê-lo ressucitado.
Papa Francisco corrige a difamação contra a memória da primeira e maior discípula de Jesus Cristo, e a trata como Apóstola, assim como os outros 12 homens seguidores do Cristo. Em 2016, o vaticano instituiu a celebração litúrgica de Santa Maria Madalena, com as mesmas deferências dadas às festas dos apóstolos. A ação, é a mais importante, mas não a única de Francisco em direção ao reconhecimento da importância das mulheres evangelistas.