Famílias temem perder casa pela 2ª vez com sede de governo no centro

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São Paulo Moradores da Alameda Barão de Piracicaba, nos Campos Elíseos, temem ficar sem casa pela segunda vez em três anos com a transferência da sede administrativa do governo estadual para o centro de São Paulo.

O grupo mora em uma das quadras com desapropriação prevista pelo projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e vive um déjà-vu em meio às notícias sobre as obras divulgadas nas últimas semanas.

Isso porque, em 2021, as mesmas famílias tiveram que deixar os cortiços e pensões onde viviam, na quadra 37 da Rua Helvétia, vizinha à Barão de Piracicaba, por determinação da Prefeitura de São Paulo. A gestão municipal falava em revitalizar a região, que foi epicentro da Cracolândia antes de os dependentes químicos se espalharem pelo bairro.

Anos depois, no entanto, os moradores seguem à espera da casa própria prometida durante aquelas desapropriações, enquanto se preocupam com o anúncio do projeto do governo estadual que tem como alvo o agora seu novo endereço.

“Eu e outras mulheres perdemos a moradia e o emprego da última vez”, conta Andria Raquel, de 54 anos, que trabalhava como faxineira e vivia em uma das pensões desocupadas em 2021.


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Na época daquelas remoções, 190 famílias que moravam nas quadras 37 e 38 foram cadastradas pela Secretaria Municipal da Habitação para receberem auxílio-aluguel, com a promessa de que seriam contempladas com moradias no próprio bairro.

Estudos feitos pela secretaria ainda durante a gestão do prefeito João Doria (ex-PSDB) previam criar naqueles quarteirões uma série de habitações populares, além da instalação de equipamentos públicos e comércios. A região fica em uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), considerada prioritária para a construção de moradias para a população de baixa renda.

De lá para cá, apenas um conjunto habitacional, o Residencial João Octaviano Machado Neto, foi inaugurado, em janeiro de 2024, na quadra 38, e só 10 das 190 famílias removidas receberam as chaves dos apartamentos. O restante do edifício, construído por meio de uma parceria público-privada (PPP) do governo estadual no terreno cedido pela Prefeitura, segue vazio.

“A gente olha o prédio e chora”, diz Raquel emocionada. O governo estadual, responsável pelo edifício predominantemente vazio, diz que as famílias removidas em 2021 têm atendimento prioritário na chamada PPP da Habitação. Para isso, no entanto, precisam ter análise de crédito aprovada pela Caixa Econômica Federal.

Raquel diz que as famílias vivem em situação de vulnerabilidade desde que deixaram as pensões na Rua Helvétia. “As famílias que precisaram sair naquela época agora estão passando necessidade”.

A moradora conta que paga R$ 900 de aluguel no endereço novo e recebe apenas R$ 400 de auxílio da Prefeitura. Os trabalhos como eletricista e faxineira ajudam a fechar a conta, mas às vezes falta dinheiro para a comida. “Ou a gente come ou paga o aluguel”.

Auxiliar de limpeza, José Charliton, 57, também foi removido em 2021 e diz que não quer passar pelo mesmo processo outra vez.

“Agora eu só quero sair daqui se for para o nosso apartamento”, diz ele. O morador vê o projeto do governo estadual para o centro com descrédito: “É a mesma história de lá. Disseram que iam construir em tudo e até agora nada”, afirma.

A maior parte dos imóveis que foram desocupados em 2021 para receber o projeto da Prefeitura seguem abandonados até hoje. Em um deles, que foi parcialmente demolido, a reportagem encontrou montanhas de entulho e lixo, além de uma pichação com a sigla PCC, em referência à facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

Outro lado

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que as 190 famílias foram inseridas no auxílio-aluguel e receberão o benefício até o atendimento definitivo com unidade habitacional.

“A seleção e o atendimento das famílias nos empreendimentos construídos por meio da Parceria Público-Privada (PPP) na região, que é administrada pelo Governo do Estado de São Paulo, foram feitas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU)”, diz a nota da Prefeitura.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) alega ainda que ampliou a produção de unidades habitacionais para aumentar o acesso à moradia na cidade, e atender à demanda atual.

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“O plano de metas da gestão 2021/2024 prevê a provisão de 49 mil moradias. De 2021 até o momento, 10.332 unidades habitacionais já foram entregues à população paulistana, sendo que 25 mil unidades estão em construção, 33 mil foram contratadas e outras 54 mil moradias estão em processo de contratação, totalizando mais de 100 mil unidades a serem viabilizadas”, termina a nota.

Já a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que o programa estadual da PPP da Habitação prevê, ao todo, a construção de 3.683 unidades habitacionais.

Para serem contempladas, as famílias precisam atender a critérios como não ter casa própria e não ter sido beneficiadas por outro programa de moradia, além de terem a análise de crédito “aprovada pelo agente financeiro (Caixa Econômica Federal)”.

“As 10 famílias atendidas no empreendimento citado pela reportagem foram as que preencheram todos os requisitos, tiveram o crédito aprovado e os financiamentos contratados, denotando o cumprimento do compromisso de atendimento. Outras famílias estão na fase final do processo de financiamento para aquisição do apartamento”, diz a nota.

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação afirma ainda que o conjunto habitacional foi destinado prioritariamente às famílias que já residiam naquela área e que as unidades remanescentes serão destinadas ao atendimento habitacional da demanda do Estado.

Na última sexta-feira (26/4), Tarcísio anunciou a criação de 6 mil moradias no centro de São Paulo.

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