A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz usou sua conta no Instagram para criticar o antissemitismo em uma questão do vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), cuja prova foi aplicada no último domingo (28/4).
O enunciado apresentava um trecho do livro “Inferno: o mundo em guerra 1939-1945”, de Max Hastings, e pedia que o candidato indicasse, entre três afirmações, quais estavam corretas sobre o assunto.
O item classificado como correto pelo vestibular era o de número I, segundo o qual “o extermínio dos judeus foi uma decisão antieconômica na medida em que sua mão de obra escrava poderia ter sido mais bem explorada pelos alemães”. A questão foi anulada pela universidade.
Em sua publicação no Instagram, Lilia Schwarcz afirmou que a questão é “claramente antissemita”. “Como? Vamos justificar mão de obra escravizada e minimizar as câmaras de gás criadas para exterminar judeus e a oposição ao nazismo?”, escreveu.
Ela também se referiu a outras questões do mesmo vestibular que “relativizavam o holocausto e a história dos povos judeus”. “A prova mais parece um teste para aferir a capacidade de ser antissemita”, disse a escritora.
“Com sinceridade, olhando para o lado que se olhar, ando cética com essa nossa humanidade que vai produzindo ódio, mortes, e polarização pelas beiradas e pelo centro”, concluiu a historiadora, que é professora do departamento de Antropologia da USP e, desde março, integrante da Academia Brasileira de Letras.
Lilia Schwarcz é autora de livros como “Brasil: uma biografia”, “Sobre o autoritarismo brasileiro”, “Enciclopédia Negra. Biografias Afro-brasileiras” e “As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos”. Cofundadora da editora Companhia das Letras, a historiadora teve obras premiadas sete vezes no Prêmio Jabuti e três vezes no APCA.