BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula recebeu na manhã desta segunda-feira (5) o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), para um café da manhã no Palácio da Alvorada.
O encontro acontece após uma semana de embates entre o Planalto e o comanda da Casa Legislativa, com críticas à articulação política e pedido de uma reforma ministerial para abrir espaço para partidos de centro.
Lula ainda terá uma reunião no fim da tarde com líderes do Congresso Nacional, que votaram a favor da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, em mais uma sinalização de que aumenta sua participação na articulação política.
O encontro com Lira não constava na agenda oficial do mandatário. O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), alvo das críticas de Lira, não participou do encontro.
Lira afirmou que recebeu um telefonema de Lula no dia anterior, convidando para o café da manhã. Eles trataram, segundo o deputado afirmou à CNN, de uma “arrumação mais efetiva da base do governo na Câmara e no Senado”. E acrescentou que o governo começa a se organizar nesta semana.
“Eu penso que o presidente está se movimentando e é importante que ele se movimente em detrimento de tudo que se tem dito, das dificuldades da articulação e as críticas que são feitas. O governo tem hoje uma noção exata de quais são essas dificuldades para que a gente possa ter um encaminhamento que as matérias possam ser discutidas com tranquilidade”, afirmou Lira.
O presidente da Câmara também defendeu que o governo marque reuniões com líderes partidários e dirigentes das legendas para que seja possível medir o tamanho real da bancada governista no Congresso, para não se ter “negociações setorizadas, individualizadas sobre essa ou aquela matéria”.
Líderes de partidos que votaram a favor da medida provisória da reestruturação da Esplanada foram chamados para uma reunião no Palácio do Planalto, às 17h. O objetivo seria se aproximar das bancadas, tendo como pretexto agradecer pela votação da semana anterior.
Além disso, devem tratar das próximas prioridades do governo, como o Minha Casa Minha Vida.
Há a expectativa que Lula também se reúna com líderes do Senado, na sequência, às 18 horas.
“E nós esperamos que dessa reunião o presidente possa ouvir, escutar, saber o que já sabe, porque todos os problemas inerentes à base do governo, que é atribuição da articulação, das lideranças do governo, ele precisa normalizar”, afirmou Lira na entrevista, acrescentando que a sua conversa com Lula foi de caráter institucional, sobre decisões que precisam ser tomadas para que o governo tenha “tranquilidade”.
“Depois da semana passada, de muita agonia, essa semana o governo começa a tentar se organizar e contará sempre com a boa vontade dos líderes da Câmara para ouvir e conversar a respeito dessa estabilização. Lógico que depende muito mais do governo do que do congresso nacional”, completou.
A reunião ocorre também dias após a Polícia Federal ter cumprido mandados de prisão e de busca e apreensão contra aliados de Lira em uma investigação sobre desvios em contratos para a compra de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
O caso teve origem em reportagem da Folha de S.Paulo publicada em abril do ano passado sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados de Lira.
O Planalto e a Câmara dos Deputados viveram dias tensos na semana passada, com a ameaçada da derrubada da medida provisória que reestrutura a Esplanada dos Ministérios. O texto depois foi aprovado, mas em meio a ataques contra a articulação política e pedidos de mudanças nos ministérios.
Às vésperas da votação do texto, Lira falou em uma “insatisfação generalizada”.
“O problema não é da Câmara, não é do Congresso. O problema está no governo, na falta ou na ausência de articulação”, disse Lira. “Há uma insatisfação generalizada dos deputados e talvez dos senadores com a falta de articulação política do governo, não de um ou outro ministro”, completou.
Quase seis meses após tomar posse, Lula assistiu nos últimos dias à demonstração mais contundente de insatisfação da Câmara dos Deputados com o governo e correu o risco de ver boa parte do desenho que fez para os seus ministérios ser apagada.
Na avaliação de parlamentares ouvidos pela reportagem, esse momento pode ter representado um divisor de águas na relação do governo com a Câmara. Os próximos passos, segundo deputados e integrantes do governo, definirão a relação que Lula terá com Lira.
O Palácio do Planalto sabe que hoje não tem votos suficientes para aprovar medidas de interesse sem a influência do presidente da Câmara. Segundo Lira e o próprio Lula, o Planalto tem asseguradas cerca de 130 de 513 cadeiras no plenário embora a base com partidos que integram o governo seja maior.
De agora em diante, avaliam deputados, Lula terá de agir para reparar as arestas em sua articulação política e dar celeridade à liberação de emendas e nomeações de cargos regionais as duas principais demandas dos congressistas sob pena de sofrer mais derrotas na Casa.
Para além disso, um pedido recorrente de parlamentares é por prestígio e para que Lira seja mais empoderado.
Isso significa também abrir espaço na máquina federal para outras legendas, como PP, Republicanos e até o PL, que apoiaram a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 alguns no primeiro, outros no segundo escalão.