MEC admite ‘divulgação indevida de resultados provisórios’ e abre investigação

AMAZONAS

O Ministério da Educação (MEC) admitiu nesta sexta-feira, 2/2, que na manhã do dia 30 de janeiro houve uma divulgação indevida de resultados provisórios do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2024, que ainda não estavam homologados. De acordo com a pasta, os dados ficaram disponíveis por 25 minutos. A ocorrência está sendo investigada. A União Nacional dos Estudantes (UNE) classificou a situação como “um grande absurdo” e informou que vai lançar uma plataforma para os candidatos denunciarem.

Na manhã de terça-feira (30), candidatos relataram ter conseguido acessar o site do Sisu 2024 por volta das 9h. Pouco depois, vários estudantes compartilharam nas redes sociais capturas de tela que mostravam a aprovação. No entanto, o resultado oficial foi divulgado com atraso e, quando saiu, frustrou alguns daqueles que acreditaram ter obtido uma vaga em instituição pública de ensino superior.

“O que houve foi uma divulgação indevida de resultados provisórios, ainda não homologados, durante 25 minutos da manhã do dia 31 de janeiro. A ocorrência está sendo rigorosamente apurada”, explicou o MEC em nota divulgada pela reportagem do jornal O GLOBO. “O sistema é seguro e os resultados oficiais não são modificados”, acrescenta o comunicado.

UNE vai criar plataforma de denúncia

Ao jornal O GLOBO, a presidente da UNE, Manuela Mirella, informou que ainda nesta tarde o coletivo estudantil vai lançar uma plataforma para os estudantes denunciarem esse tipo de situação que ocorreu com o MEC ao divulgar a lista do Sisu. De acordo com Manuela, o formulário de denúncia está sendo criado para suprir a “desassistência” do ministério para com os candidatos que foram prejudicados com a falha no sistema.

— O próprio MEC teria que ter criado um canal para juntar as denúncias dos estudantes, mas nada foi feito. Os advogados da UNE já foram acionados para notificar o MEC judicialmente e cobrar uma resposta efetiva sobre o que realmente houve. Todo mundo é passível de erro, mas é importante que esse erro seja esclarecido porque não se pode brincar dessa forma com o sonho de estudantes. Tem relatos de jovens com crise de ansiedade, sem nenhum amparo psicológico ou jurídico — afirmou a presidente da UNE, que está a caminho de Brasília para tentar um contato direto com o Ministério da Educação.

Nas redes sociais, a UNE divulgou a criação da plataforma de denúncia em resposta ao relato do estudante do Rio Grande do Norte Tiago Melo, que viu seu nome entre os aprovados no curso de Tecnologia da Informação e chegou a raspar a cabeça para comemorar a conquista da vaga. Na quinta-feira (31), no entanto, o jovem descobriu que, na verdade, não havia sido aprovado em nenhuma das duas opções de curso.

— Eu e minha família vibramos muito porque sempre foi meu sonho estudar TI. Fomos para o cursinho comemorar, tirei muitas fotos, saí em rádio e até a cabeça eu raspei… Até que, pela tarde, somos avisados de que era para desconsiderar os resultados do dia 30. Esperando que a minha vaga já estivesse garantida, afinal, eu já havia passado, e tenho isso comprovado, me tranquilizei, imaginando que essas mudanças não mexeriam no meu resultado. No fim, me decepcionei — contou o estudante.

‘Perda’ de vaga

A estudante Clara Letícia Leite, de 18 anos, que é da mesma turma de Tiago no cursinho pré-vestibular, foi outra que lamentou o ocorrido após “perder” a vaga no curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Ao GLOBO, a jovem contou que na terça-feira (30), data em que o resultado deveria ter sido disponibilizado pelo Ministério da Educação, ela ficou atenta ao site do Sisu desde às 8h da manhã. Por volta de 9h, ela conseguiu acessar o sistema e, inicialmente, apareceu a opção de manifestar interesse na lista de espera das duas opções de curso — fator que já sinalizava uma falha, visto que, caso não seja aprovado em nenhuma opção, o candidato pode aguardar vaga apenas em uma delas.

Minutos depois, em uma nova atualização da página, Clara viu que havia sido aprovada em Direito em sexto lugar de seis vagas reservadas a cotistas de escolas públicas.

— Primeiro apareceu para eu manifestar interesse nas duas opções. Foram minutos de muita apreensão até eu conseguir acessar a página novamente e ver que tinha passado para a universidade de Direito. Fui para o cursinho, comemorei com os professores e aí começaram a surgir as notícias de erro no sistema e eu fiquei apreensiva. Na quarta, quando fui entrar novamente, deu que não tinha nota suficiente e que havia sido aprovada na segunda opção de curso, que é Relações Internacionais — relata.

De acordo com a jovem, amigos que faziam cursinho pré-vestibular com ela também passaram pela mesma situação.

O estudante Ricchard Kassay, de 18 anos, também define como “frustrante” o erro no sistema. Da mesma forma que Clara, ele conseguiu acessar a página do Sisu às 9h de terça-feira e apareceu que havia sido aprovado no curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A classificação apareceu mesmo a nota de corte do curso sendo quase 20 pontos a mais que a média dele no Enem 2023, que foi de 680,14.

— Todo mundo sonha com esse momento e eu já estava me preparando para contar para a minha família, mas decidi verificar pelo celular para confirmar. Neste momento, minha nota não aparecia mais. Depois abri no notebook da minha mãe e seguiu sem aparecer minha nota — explica Ricchard. — Na quarta, quando divulgaram os resultados, eu vi que na verdade não fui aprovado em nenhuma das opções de curso. Criaram uma expectativa sobre uma realidade que nunca existiu.

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