Médico foragido tinha PMs como seguranças e foi do Mais Médicos

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São Paulo — Foragido da Justiça sob suspeita de fraudes, o médico nigeriano Oluwatosin Tolulope Ajidahun, conhecido como Dr Tosyn, dono de uma clínica de fertilização na zona leste de São Paulo, ostentava uma vida de luxo, com correntes de ouro, relógios caros, e andava rodeado de policiais militares que faziam sua segurança.

Naturalizado brasileiro, Tosyn chegou ao Brasil em 2013, pelo programa Mais Médicos, do governo federal, que traz profissionais estrangeiros para suprir carência de atendimento básico, especialmente em regiões pobres e afastadas das capitais.

Como mostrou o Metrópoles, além de fraudes milionárias em pedidos de reembolsos, pelas quais é investigado pela Polícia Civil de São Paulo, Tosyn é acusado por pacientes de protagonizar graves casos de negligência, que envolveram sangramentos, dores constantes e até um caso de aborto.

Pacientes também contaram estranhar que Tosyn andasse constantemente acompanhado de seguranças armados. “Eram seguranças que ficavam na porta, na rua, na porta do consultório. Eu me sentia muito constrangida com os seguranças na porta, armados, de um jeito que dava para ver a arma”, diz Michelle Valentim, ex-paciente da clínica. 

“A gente chegava na clínica e a recepcionista ligava pra ele depois de uns dez, quinze minutos, e avisava que a paciente já estava lá. Aí apareciam dois ou três seguranças, com dois carros às vezes, cada um em um carro”, relata V. Pereira, que também fez procedimentos de fertilização com o médico e pediu para não ser identificada. 

À Polícia e ao Metrópoles, pacientes relataram ter sido usadas também pela clínica para fraudes em reembolsos. Uma testemunha protegida da Polícia Civil de São Paulo afirmou, em depoimento, que o médico contratava planos de saúde em nome de funcionários e seus dependentes para pedir reembolsos em casos nos quais nunca houve pagamento pelo exame.

Segundo essa testemunha, até a mesma nota fiscal de um mesmo exame era usada para cobrar mais de uma seguradora. Ela afirmou que “eram diversas as estratégias realizadas para enganar os planos de saúde, como a dissimulação de pagamentos feitos em lotéricas e bancos em nomes de terceiros para que o setor de fraudes dos planos de saúde não pudesse detectar”.

Como mostrou o Metrópoles, Tosyn tentou deixar duas vezes o Brasil em dezembro. Não conseguiu e teve passaportes retidos em razão das investigações. Quando a Justiça decretou sua prisão temporária, ele sumiu.

Hoje, a defesa do médico afirma que ele está na Nigéria para cuidar do pai, que estaria doente. A polícia não tem pistas de como ele foi parar lá após duas tentativas de deixar o país.

Até outro médico nigeriano que atendia na clínica de Tosyn denunciou a fraude à polícia. Akindele Nicholas Nicol afirmou ter sido procurado pela ex-mulher de Tosyn, que teria lhe dito que sua assinatura estava sendo falsificada em um esquema de fraudes a convênios médicos.

Ele afirma que sua assinatura foi forjada por Tosyn, ou por terceiros a mando dele, para sustentar o esquema de falsos reembolsos. Ele prestava serviços a uma clínica que está em nome de uma funcionária de Tosyn, mas que, segundo o médico, seria do nigeriano na prática.

Um funcionário entregou ao Metrópoles dezenas de pedidos de reembolso feitos em nome da Amil em um intervalo de três minutos, no dia 7 de fevereiro. Todos foram emitidos para a operadora, que já processou Tosyn por fraudes.

O que diz a defesa

Ao Metrópoles, a advogada Agatha Martins, que defende Tosyn, alega que a clínica contava com um esquema de segurança, mas nada que fugisse à normalidade.

“Existiam seguranças que eram policiais, que acompanhavam o doutor Tosyn e ficavam onde o doutor Tosyn ficava. Então, se ele estava na clínica, dois policiais também ficavam na clínica fazendo a vigia, a ronda. Não é que ficavam dentro da sala com ele”, afirma.

Em relação aos pedidos fraudulentos de reembolsos, ela diz que “tudo o que era pedido para ser pago [aos planos] era em relação a exames já prestados”.



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