O setor da construção civil é predominantemente ocupado por homens. Porém, o cenário mudou, especialmente na última década. As mulheres têm conquistado espaço e estão cada vez mais presentes na construção de empreendimentos, seja ocupando cargos de liderança, em posições de gestão, como também no canteiro de obras, literalmente “colocando a mão na massa” em cima de andaimes e em meio a tijolos, concreto e areia.
Dados divulgados no último Boletim Econômico da Construção Civil, elaborado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) e pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), em março de 2023, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher (8/3), registraram que o número de mulheres que trabalham no setor cresceu, aproximadamente, 52,3% entre os anos de 2012 e 2021.
Em 2012, as mulheres representavam 9,1% da mão de obra do setor e, em 2021, esse valor passou a ser de 17,1%.
Mirelle Antunes Corrêa, engenheira civil e empresária, é vice-presidente do Sinduscon-DF e diretora do Serviço Social da Indústria da Construção do DF (Seconci-DF). Ela acredita que o número de mulheres na construção civil deve crescer de forma ainda mais consistente nos próximos anos, já que o número de profissionais qualificadas e capacitadas vem aumentando.
“Ficamos muito felizes com esse avanço. É importante enfatizar que para essa inserção no mercado de trabalho, também é necessário ter uma rede de apoio. Na maior parte, essas mulheres são mães, precisam de creches e apoio social e temos nos preocupado com isso”, explicou Mirelle.
A vice-presidente do sindicato destaca que as mulheres têm sido mais requisitas do que os homens para atividades que exigem maior paciência e precisão, como acabamento fino e pintura, pelo fato de demonstrarem maior cuidado estético, com foco nos detalhes.
“O Sinduscon trabalha com programas e cursos de capacitação. As mulheres ocupam, hoje, postos de trabalhos em diversos segmentos da construção civil. Principalmente em áreas capacitadas e em cargos de liderança, além dos serviços em canteiros de obra. Nós queremos, realmente, ser uma indústria cada vez mais desejada e onde as mulheres sejam acolhidas, recebidas e que tenham a oportunidade de crescimento”, salientou.
Oportunidade
Quem está nos canteiros ressalta que ainda há muito o que fazer e, apesar dos avanços, existe um caminho de conquistas pela frente.
Ana Petronilia de Sousa Pereira, 38 anos, trabalha como servente de obras num empreendimento no Park Sul e não consegue se ver longe da construção civil.
“Trabalho na empresa Base Incorporações há três anos . Através do meu trabalho na construção civil, consegui desenvolver interesse em várias outras áreas. Tenho três filhos, dois netos e, hoje, vivo uma expectativa de vida melhor”, conta ela.
Assista ao depoimento de Ana:
Mais do que uma excelente profissional, ela mostra que é possível correr atrás dos seus ideais e, mais do que isso, servir de exemplo para outras mulheres.
“Terminei os meus estudos, comecei um curso para me tornar técnica em segurança do trabalho e pretendo continuar nessa área para ajudar outros colegas de profissão. Não quero parar por aqui e vou continuar”, acrescentou a servente.
Qualificação de mulheres no GDF
Trabalhar na área braçal da construção civil sempre exigiu muito esforço físico, por causa disso criou-se um mito de que canteiro de obras não é lugar para mulheres. Mas, no Programa de Qualificação Profissional Renova DF do governo local (GDF) , a realidade também tem sido bem diferente, 65% dos alunos formados no programa são do gênero feminino.
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No total, o projeto já formou mais de 20,5 mil pessoas e revitalizou 2,1 mil equipamentos públicos do Distrito Federal, desde 2021.
Durante a formatura de 1,2 mil alunos do 6º ciclo do Renova DF de 2023, na última quarta-feira (6/3), o governador Ibaneis Rocha (MDB) destacou a importância do programa na inserção das mulheres em uma área do mercado de trabalho dominada pelos homens.
“É uma alegria muito grande ver, às vésperas do Dia da Mulher, uma turma formada especialmente por mulheres. Isso nos deixa muito felizes porque o alcance desse programa ultrapassa as barreiras da masculinidade e tem nos ajudado muito a fazer a inserção profissional dessas mulheres. Nós sabemos o tanto que isso é importante, até na diminuição da violência doméstica. Vocês estando qualificadas, prontas para o trabalho, estão livres do jugo masculino. Isso nos deixa muito felizes”, apontou Ibaneis Rocha.
O objetivo do Renova DF é preparar o aluno para o mercado de trabalho na área da construção civil. Maeli Pilar dos Santos, é um desses exemplos. Ela encontrou no programa uma oportunidade de qualificação e muito aprendizado.
“Aprendi todas as técnicas de pintura e já estou pegando serviço sozinha. A mulher vai conquistar o mundo. A gente trabalha muito bem, a gente é capaz. Eu quero entrar ainda mais na construção civil e, quem sabe um dia, me tornar engenheira”, concluiu Maeli.