Na caça a Jair Bolsonaro, a baleia é ele

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Jair Bolsonaro prestou depoimento à PF porque teria importunado uma baleia. Estou rindo, aqui, pelo simples fato de ter de colocar na mesma frase o verbo importunar e o substantivo baleia.

A importunação foi porque ele se aproximou demais de uma baleia-jubarte durante um passeio de jet ski, no litoral norte de São Paulo, o que é proibido pela legislação. Depois do depoimento, o advogado do ex-presidente, Daniel Tesser, disse o seguinte:

“Você não consegue controlar um animal daquele tamanho que surge, emerge de debaixo da água. É exatamente o que aconteceu. O presidente tomou todas as precauções a partir do momento que avistava a baleia. E ele também nem sabia que tinha essa proibição, mas mesmo assim tomou todos os cuidados necessários para não criar nenhum tipo de interferência.”

É óbvio que se trata de perseguição política levar um ex-presidente da República para uma delegacia porque ele se aproximou demais de uma baleia. Ele não matou uma baleia, ele não feriu uma baleia, ele não provocou uma baleia. 

Jair Bolsonaro nem de longe se assemelha a um Capitão Ahab, de Moby Dick, o clássico do escritor Herman Melville. O personagem sombrio persegue obsessivamente a grande baleia branca que lhe arrancou a perna e acaba morrendo afogado na luta contra o animal.

Desconhecer a legislação que protege baleias não é crime. Se o interesse fosse realmente proteger baleias, bastaria um procurador da área baleeira dizer a Jair Bolsonaro que tomasse cuidado da próxima vez que passeasse de jet ski. Poderia até advertir formalmente, enviar uma notificação.

Mas seria muito pouco: é preciso emporcalhar o ex-presidente mais do que ele já se emporcalhou sozinho. A coisa passa do ridículo. Nessa caça a Jair Bolsonaro, a baleia é ele.

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