Neurocientista Carla Tieppo explica como criar novos hábitos em 2024

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O início de mais um ano dá uma motivação a mais para traçarmos novas metas. Tirar um plano antigo do papel, começar um novo hobby, entrar na academia ou parar de fumar são algumas das resoluções mais populares.

Os objetivos são os mais diversos, mas todos eles têm em comum uma característica: parecem extremamente difíceis de serem alcançados.

A ciência ainda não evoluiu a ponto de conseguirmos programar o cérebro para gostar de uma atividade ou largarmos um vício em um passe de mágica. No entanto, a neurocientista Carla Tieppo afirma ser possível criar novos hábitos usando a emoção como aliada.

“Não é uma questão de programação do cérebro, e sim de vivenciar essas circunstâncias e entender quais são as emoções vividas que favorecem um determinado comportamento e onde você vai buscar recurso emocional para sustentar essa tomada de decisão”, afirma Carla.

“Se você quer mudar um comportamento e coloca isso como uma promessa de fim de ano, é porque ele é super difícil e está complicado implementar. É justamente por isso que você precisa de uma emoção forte para segurar”, considera a pesquisadora.

A neurocientista usa como exemplo sua própria tomada de decisão para parar de fumar após três décadas de tabagismo. Carla brincava com o filho, ainda pequeno, quando sofreu uma crise de falta de ar e viu o menino com medo do que poderia acontecer com a mãe.

“Naquele momento, entendi que se acontecesse alguma coisa comigo, ele ia sofrer muito e aquela emoção foi super importante para que eu parasse de fumar”, lembra.

Segundo Carla, cada indivíduo precisa encontrar seus próprios recursos para manter um hábito. “O que faz a gente ficar tenaz, manter um comportamento, ter vontade de realizar aquilo não é nossa racionalidade, não é a força de vontade. Se você precisar fazer força, vai dar errado. O correto é você ter uma emocionalidade que sustente o comportamento no tempo”, explica.

A química do corpo tem um papel importante nesse processo, com os hormônios e neurotransmissores. Os hormônios são liberados por glândulas e caem na corrente sanguínea atingindo todo o corpo. Já os neurotransmissores são substâncias liberadas pelos neurônios para agirem no cérebro. São duas fontes de comunicação química liberadas a partir do resultado de experiências vividas.

“Muita gente acha que a causa da felicidade é um hormônio. Mas é a vida que você tem, as experiências e os relacionamentos. Dependendo da qualidade deles, o organismo vai liberar determinadas substâncias que fazem você ter a sensação de prazer, felicidade e alegria. A substância é o meio através do qual um estímulo é capaz de provocar aquela sensação”, esclarece.

Neurociência

A neurociência é a ciência que estuda o funcionamento do cérebro para investigar o ser humano e suas necessidades, comportamentos, modos de agir e formas de se relacionar. Ela trata o ser humano a partir de uma perspectiva humanística, como a sociologia, filosofia, psicologia e antropologia.

Ao investigar o funcionamento intrincado do cérebro, os neurocientistas podem ter insights valiosos sobre o que acontece em condições normais e em distúrbios neurológicos, contribuindo com o desenvolvimento de tratamentos para doenças cerebrais e o aprimoramento do entendimento de como aprendemos, lembramos e experimentamos o mundo ao nosso redor.

Carla é veterinária de formação, mas estuda neurociência há 30 anos, quando fez um doutorado em psicofarmacologia. “Sou de uma época onde ser neurocientista não tinha glamour nenhum”, recorda.

A pesquisadora faz críticas ao que ela chama de “nova leva de neurocientistas das redes sociais”. Segundo Carla, qualquer cientista precisa ter um doutorado em alguma área correlata para se habilitar e ter as autorizações necessárias para fazer pesquisa no país. Mas os critérios parecem ter mudado.

“Hoje em dia, isso não é tão levado à risca porque temos muitas especializações que prometem para os indivíduos que, assim que terminarem a especialização, eles serão neurocientistas. Mas não é verdade. São especialistas na neurociência aplicada, especialistas em neurociência e comportamento, mas não neurocientistas propriamente porque não são cientistas, não têm seus laboratórios, não fazem pesquisa. Me parece um pouco paradoxal”, critica.

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