SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Itamaraty já selecionou e aprovou 50 nomes de moradores da Faixa de Gaza para serem incluídos na nova lista que será enviada aos governos de Israel e do Egito para serem autorizados a deixar o território palestino em guerra rumo ao Brasil.
Outras seis pessoas estão com seus documentos sob análise, e o grupo final poder ter ainda mais 20 ou 30 pessoas, devido ao agravamento na situação de segurança na fatia sul da região, que deverá ser objeto de uma operação terrestre de Israel assim que a destruição da infraestrutura do grupo terrorista Hamas na metade norte de Gaza satisfizer Tel Aviv.
A primeira leva retirada pelo Itamaraty de Gaza chegou ao Brasil na terça (14), após uma saga de um mês entre remoções, espera por autorização de saída e, por fim, da abertura da fronteira no posto de Rafah, que liga Gaza ao Egito.
Ela tinha 32 pessoas, 22 das quais brasileiras e as restantes, palestinas em processo de imigração e seus parentes. O trabalho agora é muito mais complexo e desafiador para a diplomacia brasileira, que quer enviar a lista pedindo a permissão de saída até o começo da próxima semana.
O motivo é a natureza da lista, que terá mais palestinos do que brasileiros. Foram incluídos diversos parentes do grupo que já foi repatriado, inclusive irmãos maiores de idade, avós e avôs. Não há a certeza de que essas pessoas serão autorizadas a sair.
O processo é complexo. Após o Itamaraty checar parentescos e documentação, a lista é enviada para as autoridades no Cairo, que é quem recebe os refugiados em trânsito e não quer nenhuma imigração, e Tel Aviv, que não quer ver terroristas do Hamas infiltrados nos grupos que deixam Gaza.
Além disso, a diplomacia do Qatar e dos Estados Unidos, mediadores do acordo que permitiu o início da saída de pessoas de Gaza há 18 dias, também são informados. Mas o poder de veto final é da dupla Israel e Egito.
É uma corrida contra o tempo. Na quinta (16), Israel começou a despejar panfletos para moradores de Khan Yunis, cidade que concentra famílias brasileiras, pedindo que os moradores deixem suas casas rumo ao litoral –antecipando assim uma ação mais incisiva na região, que já é alvo de bombardeios aéreos.
Um complicador adicional é o fato de que o novo grupo do Itamaraty não está concentrado, como o primeiro, e sim em várias localidades diferentes da Faixa de Gaza.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, teve uma reunião para detalhar os procedimentos para a segunda retirada na tarde de sexta (17). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com seu homólogo israelense, Isaac Herzog, na quinta (16) –agradeceu pelas primeiras permissões e já encaminhou o tema das segundas.
Aqui entra um componente político que os diplomatas não controlam. O governo do premiê Binyamin Netanyahu está irritado com o Brasil devido às declarações seguidas de Lula acerca da guerra que Israel move em Gaza depois que o Hamas atacou seu território e matou 1.200 pessoas no dia 7 de outubro.
Na véspera da chegada dos brasileiros, Lula sugeriu que a repatriação dependia “da boa vontade de Israel”, a quem já acusou de promover um genocídio em Gaza -o termo tem especial ressonância em um país que se ergueu do Holocausto nazista.
Ao receber os repatriados no aeroporto de Brasília, o presidente foi além e comparou o ataque do Hamas à retaliação israelense, dizendo que ambas as coisas eram terrorismo. Houve protestos na comunidade judaica, inclusive de integrantes próximos do petismo federal.
Pessoas envolvidas com as negociações da primeira leva afirmam que não houve indício de quaisquer resistências israelenses a liberar os brasileiros, ao contrário do que figuras da esquerda como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disseram.
O problema maior, apontam, é o tamanho do Brasil no jogo político do Oriente Médio e mesmo o contingente que tinha de sair. Os Estados Unidos, ator central na guerra e maior aliado de Israel, tinham 1.600 pessoas para repatriar –té a semana passada, não haviam conseguido tirar 1.000.
Agora, contudo, é incerto se o azedume nas relações de Lula com Netanyahu poderá influenciar o processo. Diplomatas apostam que não, lembrando que a Indonésia, país que nem reconhece o Estado judeu, estava na primeira lista de autorizações.
Além dos 32 nomes de Gaza, o Brasil já repatriou um grupo de 32 moradores da Cisjordânia e 1.410 brasileiros que estavam em Israel desde o início da guerra.