Outro dia, soube que há um jornalista famoso que é advogado. Não é que ele deixou o jornalismo e virou advogado, o que teria sido uma ótima decisão do ponto de vista pecuniário.
O sujeito exerce o jornalismo e advoga ao mesmo tempo. A vida desse profissional dupla face é extraordinária: de dia, ele assina uma peça em defesa de um fulano graúdo encrencado com a Justiça; à noite, noticia que o fulano graúdo que ele defende está em apuros nos tribunais, mas sem dizer que é seu advogado.
Fico intrigado: quando ele procura um juiz para despachar sobre uma causa, é como advogado ou jornalista famoso? Quando ele conversa com um magistrado para apurar informações de interesse público sobre esse mesmo processo, é como jornalista famoso ou advogado?
Quem abre mais portas na Justiça: o jornalista famoso ou o advogado? Quem atrai mais clientes: o advogado ou o jornalista famoso? Quem atrai mais causídicos para fazer parcerias?
Os chefes do veículo de comunicação em que o sujeito trabalha sabem da sua vida profissional dupla face? Acho difícil que não saibam, porque parece que ele não faz muita questão de esconder, a não ser dos consumidores de notícias. É parceiro, inclusive, de um escritório atuante em Brasília. Os patrões sabem? Patrão, em geral, sabe mais do que chefe.
Pode ser que eu esteja velho e não compreenda os novos códigos de conduta no jornalismo. Pode ser que conflito de interesses já não exista mais e só haja interesses. Não tem jornalista que faz publicidade? Por que não jornalista que advoga?
