O que é “bolsonarismo moderado” e quem melhor o representa hoje

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A resposta é não. Não é possível contarmos com um “bolsonarismo moderado” que respeite os direitos humanos e seja devoto confesso da democracia tal como ela foi concebida, não necessariamente como se apresenta em grande parte do mundo. É possível, sim, contarmos com a direita, o centro e a esquerda não extremistas.

O bolsonarismo, como vimos nos últimos quatro anos de um presidente acidental, alimenta-se do ódio e da violência, não ama a vida a não ser dos que se identificam com ele, despreza os pobres, aprofunda as desigualdades e defende a derrubada do que chama de “sistema” para pôr no lugar o que de fato lhe interessa – um regime autoritário.

Sem mais, Bolsonaro sempre defendeu a tortura e a ditadura militar de 64 da qual se sente órfão. Os ditos liberais que o serviram no governo e no Congresso podem não ter tido a coragem de defender a tortura e a ditadura com o desassombro que ele fez, mas sabiam perfeitamente a quem serviam, e para o quê.

Uma pequena amostra disso foi dada em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno das eleições daquele ano, quando Bolsonaro reuniu seus ministros no Palácio do Planalto para dizer que seria derrotado se nada de extraordinário acontecesse antes. Era a proposta de golpe oferecida sem nenhum disfarce.

Quantos ali descartaram a proposta sem hesitar? Quantos se levantaram de suas cadeiras, foram embora e em seguida pediram demissão? Nenhum. Passado o susto inicial, todos concordaram ou não ousaram discordar. A reunião foi adiante como se nada de anormal estivesse em pauta. Quem ali não estava, ficou sabendo depois.

Ocorre que a direita dita civilizada e democrática há muito tempo carece de votos para eleger seus representantes. Votou em Bolsonaro porque quis acreditar que poderia cavalgá-lo, e que mais tarde o domaria. Não lhe restava outro caminho para impedir mais uma vitória das forças da esquerda, apesar de Lula estar preso.

Resultado: não o cavalgou, muito menos domou. E por muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu. Sem votos, outra vez a direita precisa dele para colapsar o atual governo e barrar sua continuidade em 2026.  Bolsonaro está inelegível por oito anos. Certamente será condenado e preso. Mas, dentro da prisão, poderá ainda ser muito útil.

Daí a construção do “bolsonarismo moderado”, uma contradição em termos para enganar os mais desatentos ou os que votam em quem seu senhorio manda. Bolsonaro está para essa direita como os militares, no passado, estiveram para a velha UDN; ela, também sem votos, apelava sucessivamente para golpes.

Apoiou o golpe militar que acabou em 1945 com a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, que chegara ao poder em 1930 na crista de um golpe militar. Apoiou em 1954 o golpe que só não derrubou Getúlio eleito pelo voto popular porque Getúlio matou-se. Tudo fez para que Juscelino Kubitschek não tomasse posse em 1956.

Jânio Quadros, um populista de porre, foi invenção da direita que se elegeu em 1960, mas que renunciou seis meses depois pensando em voltar nos braços do povo e com um Congresso enfraquecido. João Goulart, o vice que assumiu o lugar de Jânio, era indigesto para a direita que, para livrar-se dele, apoiou o golpe de 64.

A direita, sob a democracia, só voltou a provar o gostinho da vitória em 1989, ao eleger presidente um falso brilhante, Fernando Collor.  Acusado de corrupção, Collor terminou cassado. Os arautos do bolsonarismo moderado sonham com outro falso brilhante, Tarcísio de Freitas, descrito por Bolsonaro como “uma pessoa fantástica”.

Sim, é o mesmo Tarcísio, governador de São Paulo, que descreve o padrinho como um estadista que “garantiu a segurança do campo”; o mesmo que loteou o governo entre militares, entregou o comando das polícias para a bancada da bala e cunhou a frase que marcará para sempre sua administração:

“O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não tô nem aí”.

Sem máscara, o “bolsonarismo moderado” é isso aí.

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