A expressão “progresso” significa avanço, transformação, evolução, para o bem ou para o mal. O progresso de uma inundação, por exemplo, é algo desagradável, possivelmente trágico. No entanto, mais recentemente, a palavra passou a ser usada para significar “melhoria”. Todos defendem o “progresso”, sem deixar claros quais os ganhos esperados, para quem.
Não é apenas “progresso” que ganhou essa característica plástica, no sentido de conter vários ou, até mesmo, qualquer significado, a gosto do freguês. Hoje, impressiona-me como discursos políticos, inclusive jornalísticos e mesmo alguns supostamente “científicos”, recorrem a termos vazios em substituição à clareza. Entre estes, “desenvolvimento”, e mesmo “crescimento”.
Políticos adoram essa ambiguidade, pois lhes dá a oportunidade de esquecer suas promessas e, ao mesmo tempo, dizer que as cumpriram! Isso porque, sendo a promessa dúbia, haverá quase sempre a oportunidade de jogar luz sobre um ou outro aspecto da realidade para defender que o prometido foi cumprido.
Muitos, quase todos, “progressos” trazem consigo consequências negativas: com o automóvel vieram a poluição e as mortes no trânsito; com a revolução verde a ampliação das zonas mortas nos estuários dos rios; com a maior durabilidade dos alimentos industrializados vieram mais casos de diabetes, pressão alta, obesidade e outras. Aqueles que ganham com “progressos” específicos buscam dissociá-los de suas consequências, disseminando, quando possível, o que hoje é apelidado de fake news, cuja maior incidência é aspecto negativo do “progresso” do surgimento da internet. Há evidência de que desde 1954 – curiosamente o ano da criação da Petrobrás! – os chefes da indústria do petróleo já sabiam que continuar queimando-o levaria ao aquecimento global e às tragédias resultantes!
Outra fake News frequente nos mais variados discursos é que “todos ganham” com esse ou aquele “progresso”. Há sempre os que ganham muito, os que se beneficiam quase nada, e os que perdem. Sem um balanço cuidadoso desses efeitos diferenciados, é frequente que aqueles primeiros, os que ganham muito, promovam o tal “progresso” sem que os últimos, os que perdem, possam a ele se opor.
Maior clareza quanto ao objetivo (e consequências) de qualquer “progresso”, assim como sobre o diferencial de ganhos e perdas daí decorrente, seria bem-vinda ao conjunto da sociedade.
Evitar o uso de expressões dúbias como as citadas, substituindo-as por outras mais objetivas e mensuráveis, seja por políticos, jornalistas e demais atores do processo político, seria um primeiro passo para a construção de políticas mais eficazes. Isso, por serem focadas, no sentido de apresentarem metas objetivas (e não dúbias) e mais matizadas, ou seja levando em conta o diferencial de seus efeitos sobre os diferentes membros da sociedade.
Tal pleito vai contra muito do que reza a prática política e mercadológica atual. Mas, não é exatamente uma nova política, novos métodos e melhores resultados o que (quase) todos queremos?
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados