Pelo menos 20 vítimas que caíram no “golpe do sofá” se organizaram em grupos no WhatsApp para tentar reaver o dinheiro os móveis que perderam para Jeorge Michael Batista de Oliveira, 31 anos, que se apresenta como proprietário da empresa JM Móveis. Durante semanas, as vítimas trocam mensagens de áudio e texto com o estelionatário na tentativa de concluir o negócio, sempre em vão.
A coluna teve acesso a uma série de mensagens enviadas pelo estelionatário aos clientes que haviam encomendado — e quitado metade do valor — a reforma do estofado de sofás, cadeiras e poltronas. No entanto, após semanas enrolando as vítimas, os golpistas desaparecem com os móveis e o dinheiro.
As desculpas enviadas por mensagens de áudios são as mais variadas. Desde o fato de o carro do estofador ter quebrado até a falta de material para concluir o trabalho. As últimas pessoas enganadas que chegaram a perder R$ 3 mil, tiveram a visita do golpista, que prometeu retornar para buscar o sofá, mas nunca apareceu.
“Ele ia nas casas, recebia o Pix, prometia voltar mas dava calote e nunca mais aparecia”, contou uma servidora pública enganada pelo estelionatário.
Ouça mensagens enviadas pelo golpista do sofá:
O golpe
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o rastro de crimes deixado pelo estelionatário que atrai suas vítimas por meio de postagens atrativas nas redes sociais. Pelo menos 30 ocorrências registradas em diferentes delegacias espalhadas pelo DF denuncia a prática do “golpe do sofá”.
No entanto, após semanas enrolando as vítimas, os golpistas desaparecem com os móveis e o dinheiro. Jeorge se apresenta como proprietário da empresa JM Móveis, em Santa Maria, especializada na reforma e estofado de sofás.
A firma coleciona processos na Justiça Cível por descumprir acordos comerciais, além de dezenas de ocorrências registradas por clientes que foram lesados.
Ao publicar muitas fotos de belos móveis reformados no perfil da empresa e garantindo um trabalho de excelência e rapidez, o golpista convence muitas pessoas que, dias depois, caem no golpe do sofá.
O estelionatário, segundo uma servidora pública que amargou R$ 2 mil de prejuízo, costuma pedir o adiantamento de metade do serviço no ato do contrato.
Veja imagens da empresa e do estelionatário que aplica o golpe do sofá:
Mais prejuízo
Umas das vítimas ouvidas pela comula, uma servidora pública de 33 anos, contou que encontrou o anúncio do estelionatário no Instagram e o procurou pelo direct. Ela queria reformar o sofá e negociou todo o serviço com o suposto empresário.
“Paguei R$ 980 de entrada, que era a metade do valor total. No final das contas, fiquei com um sofá estragado que eu precisei resgatar na empresa. Ainda tive que desembolsar mais R$ 2 mil para consertar tudo que foi feito”, contou. De acordo com ela, o golpista age na companhia de outros dois homens.
Em outro caso, a vítima foi um servidor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), em fevereiro deste ano. O padrão dos golpes sempre se repete. As pessoas são atraídas pelas postagens no Instagram.
“Combinei dele ir na minha casa pegar o sofá e concluir o orçamento. Ele levou os modelos de espuma e o mostruário de tecidos. Escolhemos os tecidos, a espuma e incluímos uma mola e a impermeabilização. Ficou acertado duas parcelas de R$ 975, uma entrada via Pix e o restante quando ele entregasse. Ele falou que entregaria em 20 dias, no máximo 30. O que nunca ocorreu”, disse.
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Outro lado
A coluna apurou que o suposto estofador havia sido preso, em Alexânia, no Entorno do DF, por uso de documento falso, ainda em 2020. Ele ganhou liberdade provisória pouco tempo depois.
A reportagem entrou em contato com Jeorge para falar sobre as denúncias. Segundo ele, a empresa passou por dificuldades financeiras. “Infelizmente tivemos alguns problemas com os fornecedores da nossa empresa. Porém, não queremos causar danos nem prejuízos a nenhum cliente nos colocando à disposição para resolver a situação de cada um”, disse.