Escrita ou oralmente expressa, a palavra tem ampla e significativa importância, por isso de tal forma compromete e responsabiliza quem a profere que, muitas vezes, exige-se a confirmação para não restar a mínima dúvida acerca do que foi publicamente afirmado.
O cidadão comum, a autoridade de qualquer natureza, todos respondem de alguma forma pelo que dizem, daí a exigível discrição, a continência da linguagem, especialmente em torno do que se deve expressar quando está em causa o interesse comum, e chega a ser uma forma de sabedoria dizer apenas o necessário, no momento certo.
Daqueles que por dever de ofício são quase obrigados a falar em público, muitos evitam o improviso, ou para não omitir fatos e nomes, ou para, medindo as palavras, não cometer excessos, enfim, para preservar a autoridade do cargo no qual estão investidos, imunizando-se a cobranças.
O noticiário através da televisão obriga a ouvir, ou o que não se quer, ou o que não se deve, sobretudo quando choca, a ponto de, tão estarrecedora a notícia, preferir-se aguardar o jornal do dia seguinte para uma necessária conferência, para a possível confirmação do que foi dito por determinada autoridade.
Aguardando-se a transmissão de um importante evento esportivo, por exemplo (este sim, é importante !), cansado já do que há tanto tempo vem sendo noticiado sobre o relacionamento do Executivo e Legislativo, com o governo tentando manipular os cargos, eis que, surge na tela a figura de Sua Excelência o sr. presidente da República, a afirmar sem medo que seu governo promoveu o desmatamento na Amazónia e anunciou que a nova meta brasileira é atingir ainda em 2050 a neutralidade climática – quando o país reduz drasticamente suas emissões de gases causadores do efeito estufa e compensa as emissões restantes com medidas ambientais.
Está visto que essa mentira, partindo de quem está presidente, compromete e muito, porque, de qualquer ângulo que se queira enxergar, é o reconhecimento público de que em matéria ambiental o Brasil não estacionou, mas andou para trás.
Convenha-se, no entanto, que o maior representante do Estado afirmar em rede nacional de informação, prometendo acabar com o desmatamento ilegal até 2030, compromisso que ele já havia anunciado em carta ao líder americano, é brincar com as palavras sem ter nenhum compromisso com a veracidade.
Já faz um certo tempo que os habitantes desse nosso Brasil se orgulhavam de ostentar uma Constituição Federal tão esperada e admirada, a ponto de ser adjetivada de Constituição Cidadã, francamente, convenha-se que estamos muito perto mesmo da desesperança total.
Resta a concretização de um acalentado sonho com uma autêntica liderança, jovem, valente, altaneira, criativa, atuante, contida, austera, respeitável, enfim, compromissada sobretudo e especialmente com os fundamentos da República: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa , o pluralismo político. Sonhar ainda não é tributável.