Pesquisa aponta que 21% dos peixes vendidos no AM, AC, AP, PA, RO e RR têm alta concentração de mercúrio | Brasil

AMAZONAS

Uma nota técnica publicada nesta terça-feira (30/05), resultado de pesquisa realizada por diversas organizações, como Instituto Socioambiental (Isa), Fiocruz e Greenpeace, concluiu que peixes vendidos em seis estados da região amazônica apresentavam quantidade de mercúrio superior ao preconizado.

No total, 1.010 amostras de pescados carnívoros e não carnívoros passaram por análise em laboratório. Os animais provinham de 17 municípios em seis estados que contam com território na floresta amazônica: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima.

As análises de todos os pescados indicaram que 21% deles continham mais mercúrio do que o aceitável: o máximo recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é 0,5μg (micrograma) a cada grama.

O cenário causa problemas para os animais e também para os humanos: os pescados são contaminados nas águas, normalmente pela ação do garimpo ilegal, e, ao consumi-los, a população também se contamina.

O mercúrio é usado no garimpo na busca do ouro. Sem os cuidados devidos, ele é despejado nos rios e ali se acumula. É também no ambiente aquático que o mercúrio pode virar o metilmercúrio, substância neurotóxica e que passa entre seres vivos na cadeia alimentar. Ou seja, a substância se acumula à medida que os animais se alimentam de outros seres já contaminados.

Por isso, o metilmercúrio é de alto risco, afirma Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz e um dos autores da nota técnica. “A gente considera a forma mais tóxica para o ser humano.” Para efeitos da pesquisa, realizada por diversas organizações, como ISA (Instituto Socioambiental), Fiocruz e Greenpeace, todas as detecções de mercúrio foram consideradas metilmercúrio.

“Nosso objetivo foi coletar peixes que são vendidos normalmente em feiras livres, em mercados municipais ou diretos das mãos de pescadores de modo a mostrar para a sociedade que o problema da contaminação do mercúrio não está restrito a povos indígenas ou a outros povos tradicionais”, afirmou Basta.

Algumas cidades registraram um baixo percentual de peixes com concentrações altas, como Maraã, no Amazonas, onde somente 2% dos pescados ultrapassaram o máximo indicado.

Enquanto isso, outros municípios apresentaram índices bem mais altos: em Santo Isabel do Rio Negro e em São Gabriel da Cachoeira, também no Amazonas, metade dos animais estavam com uma quantidade perigosa de mercúrio.

A variação também é vista entre os estados. Basta explica que isso ocorre por causa dos fatores associados à própria presença do mercúrio nos rios. Por exemplo, como a substância é lançada principalmente pelo garimpo, locais com maiores índices dessa atividade podem apresentar um número superior de peixes contaminados.

Esse é o caso de Roraima. No estado, está presente boa parte do território yanomami, que sofre com a presença do garimpo. Quando se olha para o índice de pescados com alta concentração de mercúrio, o estado é o que conta com o maior valor entre todos os seis analisados: 40% dos animais tinham marca superior ao que é indicado.

Humanos

Além de medir o mercúrio presente nos animais, outra parte do estudo considerou a ingestão dele no corpo humano ao consumir os peixes.

Para isso, uma das variáveis foi o peso da população, contando com informações de 2008 da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE. Com esse dado, foi possível ter uma média do peso de quatro grupos pré-definidos: mulheres em idade fértil, homens adultos, crianças de 5 a 12 anos e pequenos entre 2 e 4 anos.

Isso é necessário porque é preciso dividir a ingestão média de mercúrio diária com o peso da pessoa –nesse caso, a média de peso do grupo. Então, se o valor diário for de até 0,1μg de mercúrio a cada 1 kg, está dentro do aceitável para a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (US-EPA). Senão, a população está em risco.

A pesquisa também estimou a quantidade de peixes consumida e, possivelmente, de mercúrio. Primeiro, um relatório de 2011 foi considerado para estimar a quantidade de pescados ingeridos pela população em ambientes urbanos da Amazônia –esse número foi de cerca de 100 g por dia. Já para o mercúrio, os pesquisadores consideraram o pressuposto de que 80% do que é consumido da substância é absorvido pela pessoa.

Então, cruzando os dados da contaminação dos peixes por estado com as informações de peso e consumo diário, foi possível calcular se a ingestão ultrapassava ou não o valor recomendado de até 0,1 μg por 1 kg a cada dia.

Crianças de 2 a 4 anos no Acre, por exemplo, apresentaram a maior taxa de consumo da substância: 3,15. Ou seja, é como se elas estivessem consumindo 35 vezes mais o máximo recomendado. O dado é mais crítico porque esse grupo é um dos de maiores riscos para a substância.

Por outro lado, o menor registro foi entre homens adultos no Amapá. Com uma taxa de 0,17, esse grupo ultrapassou levemente o preconizado pela US-EPA. “Mesmo em regiões onde a contaminação não foi tão grande, a depender da quantidade de peixe consumido, pode ultrapassar o nível de mercúrio máximo recomendado”, resumiu Bata.

Como resolver

Para o pesquisador, a resolução do problema envolve diversas áreas do governo. Uma delas é o combate ao garimpo, já que ele é o principal causador da contaminação dos rios.

“Assim como está acontecendo na terra indígena yanomami, que está tendo uma força-tarefa do governo federal para retirar os garimpeiros de lá, esse mesmo processo tem que ser estendido a outras áreas da Amazônia que estão conflagradas pela presença de garimpos ilegais”, diz.

Além dessa, outras medidas são monitorar áreas contaminadas para mitigar o impacto, oferecer auxílio aos pescadores que podem sofrer dificuldades financeiras por não comercializar mais peixes contaminados e fiscalizar os peixes para barrar a comercialização daqueles contaminados.

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