Ministros de tribunais superiores estão abismados com a nomeação de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça, segundo relata o meu colega de site Rodrigo Rangel. Como parte de uma sociedade de chimpanzés, eu não estou. Explicarei mais adiante, mas não muito, porque não é preciso.
Esses ministros acham que o caso não difere do de Sergio Moro, acusado de ter prendido Lula para prestar favor a Jair Bolsonaro, em troca do cargo de ministro da pasta. No STF, Ricardo Lewandowski tem uma longa lista de decisões favoráreis ao atual presidente, inclusive a que anulou a delação premiada da Odebrecht.
“É escandaloso”, disse um ministro de tribunal superior a alguns pares, depois de lembrar também que Ricardo Lewandowski é advogado da J&F, freguês da cúpula do Judiciário.
Não acho que nada mais seja escandaloso, embora tenha de fingir que ache, porque o escândalo foi abolido no Brasil desde que anularam os processos da Lava Jato contra Lula com base em provas ilegais.
Tudo passou a ser muito natural: o advogado pessoal do atual presidente ocupou a vaga do atencioso Ricardo Lewandowski no STF, o atencioso Ricardo Lewandowski substituirá o fiel Flávio Dino no Ministério de Justiça, o fiel Flávio Dino irá para o STF na vaga de Rosa Weber, que não tinha entrado na história, se é que você me entende.
Minto, o escândalo no Brasil sempre foi exceção. Até porque os poucos que realmente se importam e se escandalizam correm o risco de ter o triste fim de Policarpo Quaresma, o personagem idealista de Lima Barreto — “E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções”. O decepcionado Policarpo Quaresma acabou preso.
Quem não tiver paciência para ler Lima Barreto pode assistir à série documental O Império dos Chimpanzés, na Netflix. Dá na mesma. É sobre a comunidade de chimpanzés Ngogo, que vivem em uma floresta de Uganda. A complexidade política dos chimpanzés Ngogo é idêntica à nossa: você cata os meus piolhos, eu cato os seus. Escândalo para quê?