Equipes da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), com apoio operacional da Polícia Civil de São Paulo (PCSP), estão nas ruas das cidades paulistas de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo, na manhã desta quinta-feira (25/4), para uma operação contra uma quadrilha que aplicava o golpe do falso leilão de carros.
No total, são cumpridos 12 mandados de prisão, 10 de busca e apreensão, 50 bloqueios de contas bancárias e derrubada de 540 domínios de sites falsos. Cerca de 61 pessoas envolvidas no esquema já foram indiciadas.
Segundo a polícia, o grupo criminoso operava há pelo menos cinco anos. Para operacionalizar o esquema, os criminosos selecionavam websites reais de famosas empresas do ramo de leilão de veículos.
Eles clonavam esses sites e criavam outros idênticos. Ou seja, apenas trocavam a extensão do endereço eletrônico. Isto é, os verdadeiros sites possuíam terminação “com.br” e os clonados tinham o exato mesmo nome e aparência, mas com a terminação “.net”.
Depois de clonar os sites, os criminosos pagavam empresas de marketing digital para impulsionar os endereços falsos em mecanismos de pesquisa como o Google. Assim, quando uma pessoa procurava pela empresa real, nos primeiros resultados da lista de pesquisa aparecia o site clonado e não o verdadeiro. As pessoas induzidas a erro entravam no site falso e passavam a conversar com os criminosos pensando estar lidando com a empresa real.
Nos sites clonados haviam telefones de contato e as vítimas interagiam com os criminosos pelo WhatsApp sendo levadas a crer que negociavam com a empresa real até fazer os depósitos dos lances. Até mesmo falsas notas de arrematação eram enviadas para as vítimas que só percebiam o golpe meses depois, quando o carro nunca era entregue, oportunidade em que já não conseguiam mais contato, pois os criminosos haviam bloqueado o telefone.
O escritório do crime era uma sala alugada num prédio comercial de Santo André que sofreu buscas nesta quinta-feira. Os criminosos batiam ponto das 8h às 18h no local, trabalhando o dia inteiro dando golpes em vítimas em todo o Brasil como se realmente fossem uma empresa.
Os investigadores conseguiram mapear cerca de 540 websites maliciosos que eram mantidos em estoque pelo mesmo grupo criminoso. Depois de usar um mesmo nome falso em muitos golpes, essa empresa começava a ficar “queimada” em sites de reclamação. Então, ele era retirado do ar e inseriam um novo de outra empresa ainda desconhecida.
Em muitos deles até mesmo o brasão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) era usado para dar credibilidade e dizerem-se autorizados para atuar nessa área.
“Essa dinâmica já vinha se desenvolvendo há pelo menos 5 anos. Só na 9ª DP foram registradas 10 ocorrências com prejuízos somados de R$ 470 mil. Estima-se, todavia, que existam centenas de outras vítimas espalhadas por todo território nacional. Nesta manhã, em cumprimento a ordem judicial, a PCDF derrubou todos os 540 websites maliciosos, bem como os demais serviços de hospedagem que o grupo possuía contratado em Data Centers. Durante a operação foram também deflagrados extensos bloqueios de contas bancárias, apreensão de veículos e outros bens como um jet-ski com a finalidade de reverter os valores em benefício das vítimas”, explicou o delegado Erick Sallum.
Lavagem de dinheiro
A investigação conseguiu mapear um laranjal de contas bancárias em mais de 10 instituições financeiras diferentes. As múltiplas contas correntes eram usadas pelos criminosos para receber os valores e depois fragmentá-los em diversas transferências subsequentes dificultando seu rastreio.
Em sua maioria, as contas era titularizadas por indivíduos residentes em comunidades do Rio de Janeiro. Segundo a polícia, isso foi mais uma estratégia dos criminosos na tentativa de direcionar a investigação para o RJ, quando em verdade eles estavam sediados em SP.
Todos os envolvidos desde os “conteiros” (pessoas que alugam suas contas bancárias) até os níveis mais altos, inclusive os mentores intelectuais do esquema tiveram sua autoria comprovada e foram indiciados pelos crimes de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e dezenas de fraudes eletrônicas com penas em abstrato somadas que podem alcançar mais de 30 anos de reclusão.