São Paulo – A defesa do empresário Roberto Carlos Ferrés, de 53 anos, motorista que foi preso na Rua Augusta, no centro de São Paulo, após atropelar um policial militar (PM) e dois motociclistas, apresentou habeas corpus para tentar soltar o empresário.
No documento, obtido pelo Metrópoles, a banca de advogados alega que Roberto estaria sofrendo de um “quadro psiquiátrico”, deveria sair da cadeia e ir para “internação provisória”. Ele foi detido em flagrante após atingir as vítimas, com um Audi Q5 blindado, na Rua Augusta, em 24 de janeiro.
O empresário disse, em depoimento na delegacia, que era vítima de perseguição há mais de uma semana e chegou a perceber “viaturas descaracterizadas” estacionadas na frente do seu prédio. Ele teria decidido alugar o carro envolvido na ocorrência por temer ser sequestrado.
O habeas corpus ainda não foi julgado no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Nele, os advogados também afirmam que o empresário teria “queimaduras em sua mão”, causadas por ele mesmo, ao tentar retirar um suposto “rastreador” do veículo do qual é proprietário. Essas alegadas lesões, no entanto, não constam no exame de corpo de delito feito após a prisão.
Surto
Roberto é investigado pelos crimes de resistência e tentativa de homicídio. O caso é investigado pelo 4º Distrito Policial (Consolação).
Para tentar demonstrar sua tese, a defesa do empresário apresentou trocas de mensagens dele com familiares, histórico de compras e um atestado de um médico psiquiatra.
“As manifestações clínicas sugerem quadro delirante agudo de causa ainda não definida no momento, com delírios de perseguição, insegurança, medo, perda cognitiva, ausência de crítica e autocrítica e que culminou com alterações comportamentais bizarras e de risco para si e para outros”, diz trecho do documento.
“A sintomatologia impõe necessidade de atendimento psiquiátrico, tratamento medicamentoso, psicoterapias e observações médicas diárias até a remissão dos sintomas.”
A defesa diz, ainda, que Roberto “nunca apresentara quadro semelhante antes”, segundo familiares. Os sintomas do suposto surto teriam começado no dia 19 de janeiro de 2024.
MPSP pede avaliação psiquiátrica
Ao se manifestar, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) argumentou que o comportamento de Roberto “pode ter como origem diversas causas que não apenas uma doença mental”.
“É cediço que estados paranoicos se instalam também em casos de abuso de substâncias entorpecentes e os sintomas desaparecem algum tempo depois com a desintoxicação do organismo”, escreveu a promotora Renata Cristina de Oliveira Mayer.
A representante do MPSP também solicitou que o empresário “seja submetido a uma avaliação psiquiátrica” e pediu que a unidade prisional envie a avaliação médica, além do relatório de comportamento de Roberto na cadeia.
O empresário está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) 1 de Belém, na zona leste da capital paulista.
Vítimas
Na delegacia, dois motociclistas relataram que estavam parados atrás de Roberto, em um farol da Rua Barão de Iguape, uma via íngreme do bairro da Liberdade, no centro, quando Roberto deixou o carro descer e derrubou um deles.
O empresário teria fugido em seguida e as vítimas foram atrás. Em outro farol mais à frente, ao ser questionado, o suspeito teria arrancado em alta velocidade e atropelado os dois mais uma vez.
Acionada, a PM conseguiu localizá-lo em um acesso da Rua Augusta. Um dos policiais deu ordem de parada, mas o suspeito a desrespeitou e voltou a acelerar.
“[O motorista] dolosamente arrancou com o veículo em sua direção, primeiro atingido a porta da viatura e na sequência seu próprio corpo, lançando para o alto. Somente não se feriu com maior gravidade em razão de ter saltado e, ao colidir com o para-choque do veículo, acabou sendo lançado à frente”.
Prisão
Os policiais atiraram nos pneus do carro. Segundo o registro policial, Roberto só teria parado de dirigir na Rua Augusta porque estava com “pneus furados e as duas rodas dianteiras retorcidas”.
No depoimento, ele afirmou não fazer uso de nenhum medicamento. O suspeito também fez teste de bafômetro, mas o resultado deu negativo.
“Não se vislumbrou nenhum ato de risco causado pelos motociclistas que justificasse a agressividade da sua conduta. Sequer houve tentativa de agressão física ou mesmo dano ao seu veículo”, escreveu o delegado Guilherme Sabino Correa.
“Roberto estava em seu veículo blindado e tinha três aparelhos celulares consigo, correspondendo a um cenário totalmente a seu favor, nada impedindo que solicitasse ajuda às autoridades de segurança pública caso realmente estivesse se sentindo ameaçado”.