O cenário político brasileiro para as eleições municipais de 2024 se desenha de forma multifacetada, na qual os ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inseridos numa coalizão de diversos partidos, podem desempenhar papéis cruciais em diversas cidades estratégicas. O Metrópoles conversou com especialistas para saber como os ministros do governo federal podem se posicionar durante a corrida eleitoral do próximo ano.
A coalizão presidencial, que reúne uma variedade de partidos, como PSB, PCdoB, PSol, PDT, Rede, União Brasil, MDB e PSD, expandiu-se com a inclusão do Republicanos e do PP, anteriormente ligados ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo Joscimar Silva, professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB), as eleições municipais de 2024 deverão mostrar a força do grupo petista ou, ainda, a reorganização de forças políticas da direita.
“As eleições do próximo ano serão um bom medidor das forças políticas nacionais para as eleições de 2026. A composição dos ministérios no terceiro governo Lula já apontam para a corrida eleitoral de 2024, dada a distribuição das coalizões com diversos partidos de centro e centro-direita e também respeitando as forças políticas estaduais”, explica o professor.
Para o coordenador acadêmico da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Volgane Carvalho, o perfil, a subjetividade de cada ministro e a forma como eles formam alianças e se relacionam com os outros políticos e partidos são habilidades determinantes para o sucesso eleitoral.
Epicentro da disputa
O epicentro do embate político é São Paulo, onde várias forças se alinham para as eleições de 2024. O deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP), apoiado pelo presidente Lula, a também deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB-SP), podem protagonizar uma disputa acirrada.
“São Paulo é a maior eleição de todas. Então, é natural que o governo tenha vários candidatos ou que os partidos que são da base do presidente se distribuam em diferentes candidaturas”, explica Volgane Carvalho.
No caso de Boulos, o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é esperado, já que a esposa, Ana Estela Haddad, é cotada como vice na chapa. a Ex-prefeita de São Paulo e ex-ministra Martha Suplicy, cortejada por Lula para voltar ao PT, corre por fora de poderá vir a compor a chapa de Boulos.
Outros ministros, como Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Marina Silva (Meio Ambiente), contribuem para o cenário positivo da coalizão de Lula.
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Já a pré-candidatura de Tabata Amaral conta com o apoio de correligionários como o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Empreendedorismo, Márcio França. O envolvimento na campanha da deputada de Lúcia França, esposa de Márcio, realça a aliança política.
Dessa forma, Tabata, candidata a vice-governadora na chapa com Fernando Haddad na eleição do ano passado, estará em palanque separado do antigo aliado.
“Nesse caso, o presidente acaba tendo uma certa neutralidade na primeira rodada e vai centrar suas forças para o segundo turno. Quanto mais candidatos, inclusive, da base governista, melhor, porque ele vai ter uma agregação de votos superior e uma taxa de sucesso potencialmente maior. A chance de eleger um apoiador é bem maior do que se ele tiver um único candidato, por exemplo”, detalha o coordenador da Abradep.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), deve caminhar ao lado do colega de partido, Ricardo Nunes, apesar da aproximação do emedebista com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem Tebet é crítica.
Fortaleza, Maceió e Rio de Janeiro
Fortaleza, capital do Ceará, é palco de uma divergência interna na coalizão governista. O ex-governador e ministro da Educação, Camilo Santana (PT), busca impedir a reeleição do prefeito José Sarto (PDT). Enquanto isso, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, licenciado do PDT, apoia o atual chefe do Executivo municipal.
Embora não apresente embates diretos entre ministros, Maceió, capital de Alagos, destaca-se pelos enfrentamentos políticos. O apoio de Lula a um candidato ligado ao ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), intensifica as tensões políticas com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
No Rio de Janeiro, a aliança entre PT e PSD no governo de Eduardo Paes tem desafios internos. A luta pela indicação do vice na chapa de reeleição de Paes torna-se uma batalha interna no núcleo petista, com caciques partidários disputando espaço.
Novas variáveis políticas
São Luís, capital do Maranhão, pode presenciar um embate entre o ministro Flávio Dino (PSB), que irá para o Supremo Tribunal Federal (STF), e Juscelino Filho (União Brasil). Suas preferências por candidatos locais podem indicar uma divisão política no estado, enquanto o partido do ministro André Fufuca (PP) avalia uma estratégia para a eleição na capital. No último pleito, a sigla apoiou um candidato do PCdoB, que não conseguiu ir para o segundo turno.
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Em Belém, capital do Pará, a situação eleitoral ainda não está definida. O governador Helder Barbalho (MDB), concentrado na COP30, e o irmão, Jader Filho (MDB), ministro das Cidades, adiam discussões eleitorais para evitar divisões na base partidária.
A figura do atual prefeito, Edmilson Rodrigues (PSol), permanece como uma peça-chave, mas resistências internas podem impactar a possível reeleição.
A novidade na capital paraense é a provável candidatura do ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil). Na análise de Volgane, a ascensão política e influência no cenário local têm o potencial de moldar alianças e definir o futuro quadro político de Belém.
“Celso Sabino é um exemplo interessante, porque, sem dúvida nenhuma, ele alcançou um destaque político recentemente, em grande parte por conta da sua habilidade, do seu trato, das boas relações que ele mantém com todos os espectros ideológicos”, avalia o coordenador da Abradep.
“Mantendo boas relações e fazendo concessões com diálogo, você consegue ter uma postura relacionada à defesa de bandeiras ideológicas, mas sem que isso seja um entrave para as relações que você vai manter no cenário político, o que vai te propiciar inclusive a possibilidade de chegar até o fim acordos com lados muito diversos”.
Divergências em cenários regionais
Em Pernambuco, o estado natal de parte considerável da Esplanada dos Ministérios – e também do presidente Lula -, o prefeito do Recife, João Campos (PSB-PE), busca apoio de ministros e aliados do petista. Essa procura por alianças estratégicas ressalta a importância de fortalecer bases em regiões historicamente vinculadas ao PT.
Na Bahia, o chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), utiliza a influência para moldar a escolha do candidato à Prefeitura de Salvador. As divergências entre os apoios a José Trindade (PSB) e Geraldo Júnior (MDB) podem indicar dinâmica interna complexa.
“Pernambuco é um estado importantíssimo, um dos maiores eleitorados do Nordeste, tem uma quantidade importante de cidades grandes e médias e já tem uma liderança do PSB, que tem um pouco mais de duas décadas. Parece que vai haver uma reorganização dessa relação do PSB com o PT, que esteve um pouco estremecida durante algum tempo, mas que os partidos estão vendo que ela é necessária, diante do fato de que a governadora [Raquel Lyra] é de um partido [PSDB] que não está alinhado com o governo”, analisa o especialista Volgane.
Volgane acredita que partidos mais próximos ao governo vão tentar fortalecer as bases no estado, reorganizando a coalizão que funcionou “com muito sucesso no passado”.
Bolsonaro e o PL em cena
Do lado da oposição, o Partido Liberal (PL) se movimenta para tentar ser protagonista, planejando lançar candidatos em várias prefeituras.
Buscando apresentar uma imagem mais moderada de Bolsonaro, o PL destaca valores da direita para conquistar eleitores além da base tradicional. Nomes como o general Braga Netto (PL) e o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) emergem como figuras centrais nas estratégias bolsonaristas.
A legenda do ex-presidente tem como objetivo eleger, pelo menos, 1,5 mil prefeitos, segundo Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
“Vamos bater recorde nas eleições de 2024. Somos a legenda que mais cresce no Brasil e, com a força dos nossos parlamentares e de Bolsonaro, iremos fazer mais de 1.500 prefeitos nas próximas eleições”, escreveu no X (antigo Twitter).
Hoje, na cidade paulista de Jundiaí, reunimos um time de peso para mais um evento de filiação de prefeitos e ex-prefeitos ao Partido Liberal. Somos a legenda que mais cresce no Brasil, e com a força dos nosso parlamentares e de Bolsonaro, iremos fazer mais de 1.500 prefeitos nas… pic.twitter.com/w2XbSWuXh8
— Valdemar Costa Neto (@CostaNetoPL) June 17, 2023
Apesar disso, o professor de ciências políticas da UnB Joscimar Silva acredita que o PL continua, em grande medida, com a imagem associada à figura do ex-presidente Bolsonaro.
“Assim, nenhum ex-membro do governo Bolsonaro conseguirá êxito como moderado, sem vínculos com a imagem de Bolsonaro. Mesmo ex-ministros que não citam o nome dele construíram as imagens pessoais associadas ao ex-presidente, o que dificulta uma ruptura dessa associação num contexto onde o Brasil ainda permanece polarizado entre Lula e Bolsonaro”, opina o especialista.
Lula como cabo eleitoral
Lula prometeu, em 8 de dezembro, que será um “bom cabo eleitoral” para candidatos petistas nas eleições municipais, destacando que as ações do governo começarão em 2024.
Durante o discurso, Lula enfatizou que não conseguirá visitar todas as cidades, mas se comprometeu a seguir a direção definida pelo PT. Também colocou os ministros à disposição para ajudar nas campanhas eleitorais do próximo ano.
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“É uma campanha que vamos ter de nacionalizar. Ministros não podem fazer campanha no horário de trabalho, mas, depois, a gente pode dar um pitaco, quando tiver acabado a jornada da gente”, disse Lula, em tom de brincadeira.