O fracasso das políticas de segurança pública está no uso da força e no endurecimento da Lei. A força provoca conflitos e a Lei, que não é feita para todos, contribui para encher os presídios, transformados em escolas do crime.
Toda vez que é pressionado a agir para deter a criminalidade, o governo desloca recursos que poderiam ir para a saúde e educação para compra de armas, carros e o aumento do efetivo policial.
Enquanto o buraco da violência cresce e o tecido social se esgarça, os governos fingem que estão fazendo a sua parte. Em alguns casos o crime diminui, mas por trás desse recuo muitas vezes há acordos espúrios que traduzem o estado profundo, onde as redes de poder se entrelaçam, inclusive o chamado poder paralelo.
Já vimos isso muitas vezes, especialmente em período eleitoral, onde para entrar em certas ruas de Manaus e outras capitais, os candidatos têm que baixar a cabeça e fazer concessões para receber passe livre do “chefe” da área. Na prática, se tornam reféns, criam laços que, no poder, não conseguem desatar.
Está aí o segredo do progresso das facções criminosas. A mão invisível do poder público as protegem.
Mas há luz no fim do túnel. A entrevista do Secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo ao jornal o Globo desta sexta-feira, revela que o governo Lula está disposto a mexer nessa ferida com um armamento pesado, capaz de mudar o conceito de segurança e resgatar milhões de brasileiros que vivem sob o domínio das facções criminosas no Brasil. E vou reproduzir aqui o ponto mais importante da entrevista para a avaliação dos leitores:
“Na segurança pública não existe uma bala de prata. Não é mudar a lei, assim como não é matar pessoas. A criminalidade organizada encontra terra fértil na pobreza, na ausência do Estado. Quero pensar a segurança pública olhando para a desigualdade social. Não pode dar certo um país que bate recordes de fluxo de helicóptero e é o campeão da moradia de rua em São Paulo.”
Agora pode dar certo. Ao menos a visão do problema é correta.