Sindicalismo fora do tempo (por André Gustavo Stumpf)

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O dia primeiro de maio começou a ser comemorado, com desfile de trabalhadores e discurso inflamado, pelo então ditador Getúlio Vargas, em 1940, no estádio do Vasco, em São Januário, no Rio de Janeiro. O então, homem forte do regime, que oscilava em apoiar o fascismo, o comunismo ou os liberais norte-americanos, precisava ter um pé em cada ideologia. Nas monumentais comemorações do Dia do Trabalho, ele anunciava o novo piso do salário-mínimo, melhorias nas condições de emprego, além de ideias caras ao fascismo, no momento em Hitler engolia os países da Europa Ocidental, avançava sobre a Polônia e planejava a invadir a União Soviética.

A comemoração do Dia do Trabalho no 1º de maio começou a ser construída partir de um violento conflito, em 1886, entre a polícia de Chicago e trabalhadores que lutavam por redução da jornada de trabalho. Antes eram seis dias por semana e 13 horas diárias. Os trabalhadores apoiados pela Federação Americana do Trabalho (AFL), a maior organização operária dos Estados Unidos, iniciaram protesto que levaria vários dias se transformou em violento conflito armado no qual onde morreram 11 trabalhadores e dezenas ficaram feridos.

Esta manifestação emocionou o mundo. Em 1889, a Segunda Internacional definiu na França o dia do início do protesto – 1º de maio – como o Dia do Trabalho, que passou a ser reconhecido pelo dia de descanso em diversas partes do mundo. Nos Estados Unidos é uma data móvel. Cai na segunda segunda-feira de setembro, final do verão no hemisfério norte, quando o tempo muda e começa a esfriar na costa leste.

O final do século 19 no mundo desenvolvido marca o início do rápido desenvolvimento industrial, que foi caracterizado pela falta de regulação trabalhista, da definição de horas de trabalho, da jornada dos menores de idade e da dificuldade de diálogo entre funcionários e patrões. Esta situação levou patrões e operários a buscarem algum diálogo para discutir problemas comuns. Este novo patamar resultou das greves e manifestações contra os padrões vigentes. Nos Estados Unidos, Henry Ford criou outro conceito de trabalho, com suas linhas de montagem e maior cuidado da saúde de seus funcionários.

No Brasil, a comemoração do dia foi sancionada pelo presidente Artur Bernardes em setembro de 1924. Começou a valer no ano seguinte. Sua decretação foi consequência da grande greve geral de 1917, realizada em São Paulo. Trabalhadores paralisaram suas atividades nas fábricas reivindicando mais direitos trabalhistas. E da ebulição dos anos vinte, com a Semana de Arte Moderna de São Paulo e as sucessivas rebeliões dos tenentes reformistas. Mas somente com Getúlio Vargas que o 1º de maio ganhou força política que se projetou durante décadas no país.

O presidente Lula tenta resgatar o prestígio da data. Mudou o local. Passou a celebrar a festa no estacionamento do estádio do Corinthians, em São Paulo, popular time paulista que ganhou seu formidável campo de futebol por intervenção do próprio Lula em governos anteriores. Ele foi recebido por alguns jogadores, recebeu mais uma camisa do time e anunciou para os trabalhadores que quem ganha até R$ 2 mil reais estará isento de imposto de renda, já neste ano. E prometeu que a isenção alcançará cinco mil reais até o final do governo.

O presidente, no entanto, queixou publicamente de que o evento foi mal organizado e mal convocado. Algumas organizações de trabalhadores não compareceram e a festa não consegui repetir o brilho dos anos anteriores. Pouca gente. Há sempre um bode expiatório para ser responsabilizado pelo fracasso da festa, mas a verdade que é que sindicalismo não vive a melhor fase da sua vida no Brasil. Mas os líderes do Partidos dos Trabalhadores não enxergam as mudanças na economia e no sistema de emprego. Insistem nas antigas teorias econômicas, do desenvolvimento baseado no financiamento do Estado e na presença dos sindicatos na gestão da vida nacional. Era assim na Itália de Mussolini.

Avanços tecnológicos, aliados a semanas mais curtas, nova maneira de trabalhar modificam rapidamente o ambiente corporativo. Apenas um exemplo: um amigo mora em Brasília e trabalha numa empresa sueca de locação de mão de obra especializada. Ele recebe em moeda forte e gasta em reais. Situação privilegiada. Mas obedece a uma condição: não pode permanecer mais de seis meses no mesmo emprego. É obrigado a ser free-lancer. Trabalha em casa, nas mesas de restaurantes e nas praias que costuma descansar. Restaurantes no Rio de Janeiro, aliás, estudam a fórmula de cobrar dos clientes que permanecem longas horas nas mesas e cadeiras do estabelecimento. É o novo escritório. Como colocar estas iniciativas dentro da antiga moldura sindical? Esta pergunta não obteve resposta até agora. A falta dela explica a erosão dos índices de aprovação do governo Lula.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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