A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou, nessa sexta-feira (12/4), o primeiro documento com diretrizes para o diagnóstico e tratamento da cardiomiopatia hipertrófica (CMH). A doença é a mesma que vitimou em 2022 o empresário João Paulo Diniz, filho de Abilio Diniz, aos 58 anos.
A cardiomiopatia hipertrófica, também conhecida como miocardiopatia hipertrófica, é um fator de risco importante para a morte súbita (infarto fulminante), principalmente em atletas de esportes de alto impacto. Assim como o pai, João era amante dos esportes. Horas antes de passar mal em casa, o empresário tinha saído para correr.
“Frente a tantos novos conhecimentos, cuja incorporação à prática clínica se faz necessária e premente, a presente diretriz tem por objetivo apresentar as recomendações mais atuais para o diagnóstico, estadiamento prognóstico e tratamento da CMH, com base na revisão crítica das evidências científicas atuais”, diz o artigo.
O documento da SBC aborda os tópicos mais importantes sobre a doença para orientar melhor os médicos sobre a origem da cardiomiopatia hipertrófica, quadro clínico, diagnósticos diferenciais e métodos complementares. Ele faz um equilíbrio entre as diretrizes europeia e norte-americana, levando em consideração a experiência e opinião de especialistas brasileiros.
“A diretriz foi feita por um conjunto de médicos especialistas e determina as recomendações de abordagem em cada área de atuação. É um posicionamento da SBC para dizer como o médico deve atuar em frente à cardiomiopatia hipertrófica”, afirma o médico Fabio Fernandes, diretor do grupo de Cardiomiopatia da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
O documento fala sobre a importância de fazer exames de avaliação em atletas, por exemplo, além de testar familiares de pacientes com suspeita da doença e indicar alguns exames para investigar e confirmar o diagnóstico.
Cardiomiopatia hipertrófica, uma doença silenciosa
A doença congênita afeta aproximadamente 400 mil brasileiros e 20 milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, acredita-se que haja uma grande subnotificação de casos no Brasil. Estima-se que 90% dos casos são assintomáticos — por isso, muitos pacientes não sabem que há algo de errado com seu coração.
“Muitas pessoas podem ser portadoras e confundi-la com outras doenças, já que os sintomas são os mesmos de outras cardiopatias. Por isso, é importante que todos os indivíduos façam avaliação pré-atividade física para prevenir complicações, independente de ser de alta intensidade ou não”, afirma Fernandes.
Quando há sintomas, muitas vezes são confundidos com outras cardiopatias. Os principais são: falta de ar, dor no peito, desmaios, respiração curta, sensação de palpitações, pressão no peito ao realizar atividades físicas, cansaço e fadiga.
Ao auscultar as batidas do coração, o médico pode escutar um sopro. Conforme avança, a doença pode fazer com que o paciente desenvolva arritmia. “Quase 70% dos pacientes têm a forma obstrutiva da doença, que pode evoluir com risco maior de desenvolvimento de insuficiência cardíaca, com falta de ar e cansaço”, diz Fernandes.
O diagnóstico da cardiomiopatia hipertrófica é feito por meio de exames, como o ecocardiograma, teste ergométrico e o holter. A confirmação pode ser feita ainda com uma ressonância magnética do coração.
Morte súbita
Outro ponto importante do documento é levantar a importância da avaliação de dados e de resultados de exames para prever o prognóstico do paciente e o risco de morte súbita por cardiomiopatia hipertrófica.
De acordo com o médico Marcus Vinícius Simões, um dos coordenadores da nova diretriz, existe um mito de que todos os pacientes que possuem a cardiomiopatia hipertrófica terão morte súbita. No entanto, apenas uma minoria deles têm risco aumentado.
“Os algoritmos atuais nos ajudam a estratificar o risco e distinguir quem realmente precisa de intervenção para prevenir a morte súbita com implante de dispositivos. Esta e outras informações altamente relevantes estarão presentes na nossa diretriz”, completa.
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