Não sei se você compartilha da mesma impressão, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, está ficando cada vez mais parecido com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o empregou como ministro da Infraestrutura e o elegeu governador.
Bandido bom é bandido morto, lembra? Era o que Bolsonaro dizia, e seus seguidores repetiam. Tarcísio ainda não disse a mesma coisa, mas sua polícia se comporta como se ele a endossasse. O que ele disse, a propósito de tantas mortes no Estado, foi:
“Estou nem aí”.
Tarcísio corteja Bolsonaro de todas as maneiras. Ora, oferece-lhe hospedagem no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo; ora convida-o a participar de solenidades. Recepcionou Bolsonaro no palanque do seu comício na Avenida Paulista.
O Palácio dos Bandeirantes, agora, está repleto de militares, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Tarcísio deixou o Exército em 2008 com o posto de capitão para enveredar em uma série de cargos técnicos. Serviu até no governo de Dilma Rousseff.
Colegas do governador ainda do tempo da Academia Militar das Agulhas Negras ocupam desde a pasta mais poderosa do governo, a Casa Civil, à organização dos detalhes do dia a dia no Palácio dos Bandeirantes. Nenhum anda fardado.
Um coronel da reserva do Exército, amigo do governador desde o tempo de academia militar, assumirá a chefia de gabinete de Tarcísio, cargo hoje inexistente. O nome escolhido para a vaga é o de André Porto, que foi para a reserva no ano passado.
O novo cargo ainda não foi criado, mas o militar despacha em sala próxima à de Tarcísio. Entre as atribuições do posto está o controle de quem tem acesso ao governador, com setores que cuidam das agendas e do cerimonial, por exemplo, se reportando diretamente a ele.
O coronel da reserva faz parte de uma geração de militares que estudaram no mesmo período na Aman, entre 1993 e 1996, que inclui o braço direito do governador, Arthur Lima, titular da Casa Civil, e o próprio Tarcísio. Lima é filiado ao PP.
A cadeia de comando da pasta de Lima é formada por pessoas vindas do Exército. O número dois é Fraide Sales, outro que estudou na mesma turma de Tarcísio na academia militar. Ele foi nomeado neste ano no lugar de Edilson José Costa, também com origem militar.
O chefe de gabinete da secretaria é Francisco Ronald Rocha Fernandes, militar que atuou nos últimos anos como chefe-adjunto da assessoria de informações de Itaipu Binacional, e substituiu um funcionário que exercia a função há 36 anos.
Os militares que cercavam Bolsonaro costumavam gritar “Selva” ao se encontrar em ocasiões especiais. Os que cercam Tarcísio são mais discretos. É o bolsonarismo que se aperfeiçoa.