O segundo dia de desfile das escolas de samba do Grupo Especial, no Rio de Janeiro, provou que o Carnaval vai muito além de folia, diversão e bebida. A prova disso é Um Defeito de Cor, livro de Ana Maria Gonçalves, elencar o primeiro lugar de obras mais vendidas da Amazon após a apresentação da Portela na Marquês de Sapucaí.
Em seu samba deste ano, a Portela trouxe o enredo com mesmo nome da obra de Ana Maria Gonçalves, lançada em 2006. Abordando a importância do afeto e da ancestralidade feminina, a agremiação causou emoção na Sapucaí.
Um Defeito de Cor: conheça o livro que a Portela levou para a Sapucaí
Mães de dezesseis vítimas de violência no Rio de Janeiro saíram no carro Um Defeito de Cor. Entre elas, estava Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, vereadora assassinada em março de 2018, e Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, grávida morta no Lins, em 2021.
Em entrevista recente ao Metrópoles, Ana Maria adiantou que o samba-enredo se desenvolveria por meio de uma carta sonhada pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, na qual Luís Gama se dirige à mãe.
“É uma perspectiva muito interessante”, afirma Ana Maria, que até o contato da escola de samba não tinha muita ligação com o Carnaval. “Uma forma de homenagear todas as mães negras do Brasil, as mães da Portela e principalmente aquelas que não puderam criar seus filhos”, explica.
Por conta do desfile, o livro de Ana Maria amanheceu esta terça-feira (13/2) em primeiro lugar nas obras mais vendidas da Amazon. Em quinto lugar, está a edição especial da mesma obra, lançada em 2022.
Sobre o que fala o livro?
Pautado em intensa pesquisa documental, Um Defeito de Cor narra oito décadas da formação da sociedade brasileira, a partir da história de Kehinde, ou sequestrada, escravizada e trazida para o Brasil, onde foi batizada como Luísa.
A protagonista é inspirada em Luísa Mahin, que teria participado da célebre Revolta dos Malês, liderada por escravizados muçulmanos a favor da abolição. Ela seria mãe do advogado, abolicionista, orador, jornalista, escritor e o patrono da abolição da escravidão do Brasil, Luís Gama, vendido como escravo pelo próprio pai quando criança.
Depois de ver a história de Kehinde ganhar a Marquês de Sapucaí, Ana Maria afirma que sonha em levar o trabalho para o audiovisual, o que quase aconteceu em 2020.
“A Globo me procurou para falar sobre a possibilidade de sair uma supersérie sobre o livro, mas o contrato venceu e não penso em renovar. Mas acho que em algum momento vai acontecer”, destaca.