Um governo analógico, o de Lula, em tempos de Inteligência Artificial

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Fica decretado, pois, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem nenhum problema com o Congresso, o que contraria muito do que se escreve e se diz por aí levianamente.

Fica também decretado que não passou de brincadeira os comentários feitos por Lula em público sobre o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e Geraldo Alckmin, o vice-presidente.

De Haddad, Lula disse que chegou a hora de ele ler menos livros e trabalhar mais para aprovar no Congresso os projetos do governo. De Alckmin, que está lhe faltando mais agilidade.

Durante um café da manhã com jornalistas ávidos por notícias, Lula disse, sorridente e calmo:

“Vocês já se deram conta de que nunca no Brasil se aprovou uma reforma tributária? Todos os processos que o governo mandou para o Congresso foram aprovados. A briga é da política, normal, se não gostar de fazer isso, não faça política”.

Coube ao ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, consertar a fala de Lula a respeito dos ministros, e aí sobrou para os jornalistas:

“Tantos fatos relevantes como ontem foram secundarizados por conta daquilo que, evidentemente, para qualquer pessoa que tem bom senso, viu que foi uma brincadeira. Desse jeito, o presidente Lula não vai poder nem brincar mais”.

Tadinho do Lula. Vai ver que na semana passada o brincalhão foi Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, que chamou Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais do governo, de seu desafeto pessoal. Brincou, não foi Lira?

Para quem está à distância, fica difícil saber quando o presidente da República fala sério e quando brinca. Como devem ter-se sentido Haddad e Alckmin? Haddad pode estar acostumado com as brincadeiras de Lula, mas Alckmin ainda não está.

No caso de Alckmin, atual ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, ainda por cima ele é o vice-presidente,  e sua intimidade com Lula está sendo construída aos poucos. Por sinal, até o PT reconhece Alckmin como um dos ministros mais ágeis.

Haddad respondeu à “brincadeira” de Lula com outra, que postou nas redes sociais; Alckmin, da mesma forma. Ninguém respondeu pelo Congresso a observação de Lula de que o governo não tem problemas com ele, embora tenha, e o Congresso os crie todos os dias.

Este governo que já tanto fez até aqui, não sei por que escolheu apresentar-se sempre na defensiva, correndo atrás do prejuízo. É tentador dizer que lhe falta uma boa política de comunicação. Mas o que lhe falta certamente é um projeto de país moderno.

Ocupa-se em desenterrar coisas velhas, algumas necessárias, dando-lhes nomes novos. E as cabeças que ali predominam são justamente as mais velhas, a começar pela de Lula. Não é questão de idade, mas de desatualização. É um governo analógico em tempos de IA.

Enquanto não se atualiza, Lula poderia, pelo menos, providenciar um porta-voz jovem, mas experiente. Todos os grandes chefes de Estado têm um porta-voz.  Mas Lula não quer um. E se depender dos que o cercam, ele não terá, para que todos sigam falando à vontade. Não vai dar certo.

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