Esta tem mais de um ano, mas se renova continuamente: foi ele e mais ninguém que ganhou a eleição presidencial de 2022; por um pouquinho de nada, mas ganhou – e não o PT. Portanto, mais do que nos seus dois governos anteriores, Lula se guiará desta vez pelas próprias ideias, e assim está sendo.
O PT antigo não gosta disso e reclama o quanto pode, desde que à boca pequena, no escurinho dos gabinetes ou a céu aberto, mas a salvo de escutas eletrônicas. O PT novo, aquele que cerca Lula no momento, também reclama, mas com menos vigor; afinal, está bem empregado.
Enquanto Sergio Moro não for cassado, Lula não descansará. Parte de sua energia ele aplica na criação das condições para que Moro perca o mandato de senador e ganhe em definitivo o rótulo de juiz parcial, que o condenou sem provas nem evidências. É o troco a ser dado com o prato ainda quente.
Até que isso aconteça, e deverá acontecer este ano, não se cobre de Lula um governo de imaginação. Ele reedita programas que deram certo no passado e que poderão garantir sua reeleição em 2026. Em um eventual quarto governo, então veremos o que fazer.
Para derrotar Bolsonaro, Lula valeu-se do gogó. Atribui-se ao imperador francês Napoleão Bonaparte uma frase que ele talvez nunca tenha dito: “Primeiro a gente ganha, depois a gente vê”. Lula ganhou e o que começou a ver foi pior do que esperava; espantou-o e o surpreendeu.
A saber: um Congresso muitas vezes mais poderoso e conservador do que aquele que enfrentou entre 2003 e 2010; um PT carcomido, carente de novos quadros e ultra dependente dele; uma democracia enfraquecida que quase foi pique; um Judiciário ferido, mas triunfante e soberano.
Se não fossem Janja e Flávio Dino, o golpe do 8 de janeiro poderia tê-lo derrubado, acha o próprio Lula. Foi Janja que disse primeiro: “GLO, não”. Estava pronta a minuta do decreto que poria as Forças Armadas nas ruas para restabelecer a lei e a ordem ameaçadas; um risco.
Dino, ministro da Justiça, sugeriu a Lula outra saída: a intervenção federal no setor de segurança pública do Distrito Federal. O interventor foi Ricardo Cappelli, secretário-geral do ministério, homem de toda confiança de Dino. Ibaneis Rocha, governador, acabou afastado do cargo.
É por isso, mas não só, que Lula nomeou Dino ministro do Supremo Tribunal Federal, pondo no seu lugar Ricardo Lewandowski, ex-ministro do Supremo. Os dois também lhe serão úteis caso a cassação de Moro venha a depender da palavra final da mais alta Corte de Justiça do país.
Lula recusa-se a ouvir críticas a Dino, de quem se sente devedor; e a Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que soube abrir canais diretos de negociação com o Congresso, aprovando a maioria de suas propostas. Quanto ao mais, confia que será reeleito com o voto dos mais pobres.
Bolsonaro dizia jogar dentro das quatro linhas da Constituição, mas jogou fora delas. Lula joga dentro das quatro linhas e não arredará pé disso. Faltam a Lula imaginação e ousadia para levar o país a voar mais alto e de maneira mais sustentável do que voam as galinhas?
A ver, caso ele se reeleja em 2026. Até lá, é jogo jogado.