O bombardeio intenso contra uma cidade da Faixa de Gaza repleta de refugiados destruiu uma grande mesquita e matou ou feriu dezenas de pessoas na quinta-feira (22), enquanto Israel repetia sua intenção de invadir a área com forças terrestres se o Hamas não libertar reféns antes do início do Ramadã, em março, mês sagrado muçulmano.
Quase 100 pessoas foram mortas em todo o enclave devido aos ataques israelenses no último dia, disseram as autoridades de saúde de Gaza na quinta-feira, elevando o número total de mortos após quase 20 semanas de guerra para quase 30.000, segundo o jornal New York Times.
Cerca de metade da população de 2,3 milhões de pessoas da Faixa de Gaza está amontoada na cidade de Rafah, no sul, ao longo da fronteira com o Egito, onde ocorreu o ataque à mesquita. A Wafa, a agência de notícias palestina, informou que pelo menos sete palestinos foram mortos durante a noite em Rafah e dezenas de outros ficaram feridos.
O coordenador do presidente Joe Biden para o Oriente Médio, Brett McGurk, reuniu-se com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na quinta-feira por “algumas horas”, concentrando-se na questão de saber se os negociadores poderiam “consolidar um acordo de reféns”.
As negociações na semana passada no Cairo para um acordo de reféns fracassaram quando Netanyahu retirou os seus negociadores, acusando o Hamas de se recusar a ceder no que chamou de exigências “ridículas” e prometendo prosseguir com a ofensiva de Israel.
A provedora geral militar de Israel, Yifat Tomer-Yerushalmi, escreveu, numa carta à procuradoria-geral militar, que encontrou casos de “conduta imprópria” de soldados na Faixa de Gaza e que alguns deles “ultrapassam a esfera disciplinar e passam o limite para o criminal”.
Tomer-Yerushalmi enumerou uma série de ações: declarações não apropriadas que encorajam fenômenos não apropriados; uso de força sem justificação operacional, incluindo contra detidos; pilhagem, que inclui o uso ou remoção de propriedade privada com objetivos não operacionais; e a destruição de propriedade civil de modo contrário a ordens.
O chefe do estado-maior das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, enviou uma mensagem para os militares:
“Não estamos a levar a cabo uma matança, vingança ou genocídio. Viemos para ganhar e derrotar um inimigo cruel, que merece uma derrota amarga”.
Halevi pediu aos militares “cuidado para não usar força onde não seja necessária”. E instou-os:
“[Há que] distinguir entre terroristas e os que não são, não levar nada que não seja nosso — uma lembrança ou armas — e não fazer vídeos de vingança.”
São muitos os vídeos de soldados de Israel destruindo artigos de decoração ou escolares em casas e lojas de habitantes de Gaza, alguns divulgados pela CNN americana e o New York Times. Houve ainda o caso de dezenas de homens despidos e algemados, mostrados como se fossem combatentes do Hamas. Não eram, a não ser 10% ou 15% deles.
As Nações Unidas (ONU) alertaram o governo israelense para relatos “alarmantes” e “credíveis” de “mulheres” e adolescentes palestinas executadas “arbitrariamente” em Gaza ou mantidas em jaulas e expostas “à chuva e ao frio, sem comida”. Outras foram vítimas de abuso sexual.
Em discurso feito na última segunda-feira no Congresso, a ministra da Igualdade Social e Empoderamento Feminino, May Golan, afirmou estar “orgulhosa das ruínas” na Faixa de Gaza. Também disse desejar que todas as crianças possam contar aos seus netos o que os judeus fizeram contra o grupo terrorista Hamas após o ataque de 7 de outubro:
“Não nos envergonhamos de dizer que queremos ver os soldados de Israel capturando Yahya Sinwar [líder do Hamas em Gaza] e seus terroristas pelos olhos, arrastando-os pela Faixa de Gaza a caminho dos calabouços da Autoridade Prisional”.
Há dois meses, a ministra dissera “não ligar” para o enclave palestino. Em entrevista ao portal Middle East Monitor, Golan afirmou que, por ela, “eles [os palestinos] podem ir nadar no mar”. E mais:
“Quero ver corpos de terroristas mortos em Gaza. É isso o que eu quero ver”.